quinta-feira, 11 de dezembro de 2014


11 de dezembro de 2014 | N° 18010
PAULO SANT’ANA

Assis Valente, um gigante

O trágico compositor popular Assis Valente compôs uma marchinha que encantou durante 10 anos o Brasil (anos 40) e ainda provoca fascínio entre os que porventura a ouçam. É fantástica:

Anoiteceu, o sino gemeu

E a gente ficou feliz a rezar.

Papai Noel, vê se você tem

A felicidade pra você me dar.

Eu pensei que todo mundo

Fosse filho de Papai Noel.
E assim felicidade

Eu pensei que fosse uma

Brincadeira de papel.

Já faz tem que eu pedi

Mas o meu Papai Noel não vem.

Com certeza já morreu

Ou então felicidade

É brinquedo que não tem.

É uma das belas páginas do cancioneiro brasileiro esta simples e singela marchinha em que Assis Valente demonstra um talento sem fim, a letra da música é de uma simplicidade própria das grandes obras.

Fantástico. Quem tem mais de 50 anos se lembra das rádios executando nas proximidades do Natal esta música. E hoje ainda muita gente se debruça sobre a música e a melodia que revivem uma das principais lendas da humanidade: o Papai Noel.

Este Assis Valente, autor de várias músicas lendárias do repertório nacional, entre elas Camisa Listada e Brasil Pandeiro, teve uma existência trágica. Cansava de andar pelas ruas do Rio Janeiro em farrapos e as pessoas o evitavam porque sabiam que ele iria mendigar-lhes dinheiro para comprar cocaína.

Ele tentou seis vezes o suicídio para valer. Na primeira vez, atirou-se de um abismo de quase 800 metros, no Corcovado. Antes que completasse 80 metros, diante de populares, bombeiros e policiais que acorreram ao ato chamados pela curiosidade ou pelo dever, aconteceu um fato quase sobrenatural: Assis Valente teve interrompida sua queda suicida por uma árvore que milagrosamente acolheu-o em sua copa, de onde foi retirado somente seis horas depois.

Na sexta vez em que tentou o suicídio acertou na mosca, ou melhor, no rato, ele bebeu veneno raticida e morreu. Ele, o grande poeta popular dos dentes alvos, que como garoto tinha fugido com um circo e como homem não conseguia fugir da morte que tanto o seduzia.


Está sendo editada a sua biografia por Gonçalo Jr., da Editora Civilização Brasileira. Vale a pena lê-la.

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