quinta-feira, 18 de dezembro de 2014


18 de dezembro de 2014 | N° 18017
EDITORIAL ZH

UM GESTO PARA A HISTÓRIA

O reatamento das relações entre Estados Unidos e Cuba tem alcance mundial, mas deve ser complementado pelo resgate das liberdades na ilha.

O mundo esperou por décadas pelo gesto que mobilizou os governantes dos Estados Unidos e de Cuba na direção do apaziguamento. O resgate das relações entre os dois países significa muito mais do que o reatamento da convivência diplomática entre nações que se hostilizaram de forma agressiva durante 53 anos. O que a reaproximação representa é um avanço para toda a civilização e, espera-se, mais adiante, também para a democracia.

Ao romper o isolamento da ilha, mantido até agora sob os mais variados argumentos, a Casa Branca sinaliza com a possibilidade concreta de contribuir para que um país, ainda sob regime totalitário, desencadeie finalmente o processo que conduza à supremacia das liberdades.

É tarefa de todos os países democráticos, a partir de agora, contribuir para que o gesto tenha seus efeitos amplificados, com alcance que supere questões da diplomacia e do comércio. O primeiro impacto, além do simbolismo político, é certamente o econômico, se o Congresso americano eliminar um embargo que transformou Cuba num país com sérios problemas de intercâmbio com outras nações, além dos Estados Unidos.

São potencialmente favorecidas as relações entre governos, já que a atitude norte-americana irá inspirar outras ações semelhantes, por mais que o mundo ocidental continue questionando a centralização do poder na ilha e as deformações do regime castrista.

Todos os governantes que mantêm compromissos com os esforços para a extensão da democracia a países que ainda a desprezam devem se engajar ao processo deflagrado. Cuba representou, por décadas, especialmente durante a Guerra Fria, a imagem do país minúsculo que enfrentava o mais poderoso inimigo dos ideais do socialismo. Era uma simplificação, sustentada por posições ideológicas, que ignorava os desmandos de um regime autoritário. Mas também era condenável a exaltação, sem questionamentos, da manutenção de um bloqueio que apenas prolongou um conflito esvaziado pelo fim do comunismo.


A extinção do embargo será também a redução de ideias superadas e de preconceitos, de ambos os lados, que em nada contribuem para que o cenário mundial seja distensionado. Todos serão vitoriosos, se o governo cubano, num gesto complementar, iniciar a esperada abertura democrática. Se não se dispuser a isso, o reatamento histórico de ontem e suas consequências terão sido incompletos.

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