09
de dezembro de 2014 | N° 18008
MOISÉS
MENDES
A hora da
verdade
O
vão livre de 74 metros
do Museu de Arte de São Paulo oferece uma sombra boa. Quem passa sem pressa (há
gente sem pressa em São Paulo) dá uma paradinha para descansar e admirar o
vaivém na Avenida Paulista. E você tem a vantagem de pensar que sobre a sua
cabeça estão Rembrandt, Portinari, Monet, Van Gogh.
No sábado
à tarde, o vão ofereceu sombra a um grupo de golpistas. Eram defensores de uma
nova ditadura refugados pela turma que protestava ali contra a corrupção e
pedia o impeachment da presidente.
Essa
turma não queria golpistas declarados por perto. Os pró-ditadura foram
empurrados para a calçada, a passeata andou e eles ficaram no Masp. Seriam uns
800.
É
medonho ver pregadores de golpes desfrutando da sombra do maior acervo de arte
do Brasil. Arte é liberdade. E golpistas querem o fim das liberdades, num projeto
que nem o Lobão aceita liderar.
Enfim,
esse pessoal terá com o que se ocupar a partir de amanhã, com a entrega do
relatório da Comissão Nacional da Verdade ao governo. O presidente da Comissão,
Pedro Dallari, já avisou:
– É
até capaz que o leitor (de uma entrevista dele) ache nossas conclusões tímidas,
pelas provas que vamos apresentar.
Esperemos.
Foram 434 mortos ou desaparecidos durante o regime que assassinou, torturou e
ocultou cadáveres. A Comissão vai pedir que todos os que cometeram crimes, como
“agentes da ditadura”, sejam responsabilizados na Justiça.
Foi
assim no Chile e na Argentina. Aqui, a anistia protegeu todo mundo e ficou como
está, apesar das advertências da Corte Interamericana dos Direitos Humanos, da
Organização dos Estados Americanos, de que não há anistia para torturadores.
É um
momento grave demais para que se busque a sombra confortável da neutralidade.
Ou o país oferece os suportes da democracia ao trabalho da Comissão, ou leva
adiante a vidinha de resignado com os crimes da ditadura. Enquanto a turma
refugada no Masp sente-se à vontade para pedir outro golpe.
Recebi
do jornalista Almir Freitas, assessor de comunicação da Associação dos
Transportadores de Passageiros de Porto Alegre, carta assinada pelo
vice-presidente da ATP, Eloy Adalberto Dias dos Reis.
É
uma resposta a texto que publiquei aqui na semana passada sobre o fracasso da
licitação da prefeitura e sobre a necessidade de qualificar os serviços.
Reis
enumera os obstáculos para as concessionárias: descaso dos governos com o
transporte coletivo, obras de mobilidade urbana que não avançam, prioridade da
política econômica ao uso do carro e prejuízos com passagens gratuitas (um em
cada três passageiros anda de graça).
O
dirigente diz que são 12 empresas explorando os serviços em Porto Alegre, o que
descaracterizaria a formação de cartel. A carta é longa. Reproduzo aqui o
trecho sobre o fracasso da licitação, que não atraiu interessados:
“Em
reportagem veiculada por zerohora.com, no dia 25 de novembro, algumas empresas
de fora do Estado e do Interior explicaram o motivo por que não participaram da
licitação do ônibus: igualmente àquelas que aqui operam, os titulares das
empresas ouvidas não querem perder dinheiro pelos próximos 20 anos. Por que não
apareceu nenhum interessado de qualquer parte do mundo em uma licitação
internacional? Diferentemente do que faria um ‘cartel’, a ATP apresentou os
estudos à prefeitura antes da realização da licitação.
A
resposta obtida foi a de que a licitação seria atrativa e apta a promover a
competição. No entanto, a ausência de interessados confirmou-se como evidência
cabal de que o modelo era de fato inviável, como apontado por especialistas”.
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