terça-feira, 9 de dezembro de 2014


09 de dezembro de 2014 | N° 18008
MOISÉS MENDES

A hora da verdade

O vão livre de 74 metros do Museu de Arte de São Paulo oferece uma sombra boa. Quem passa sem pressa (há gente sem pressa em São Paulo) dá uma paradinha para descansar e admirar o vaivém na Avenida Paulista. E você tem a vantagem de pensar que sobre a sua cabeça estão Rembrandt, Portinari, Monet, Van Gogh.

No sábado à tarde, o vão ofereceu sombra a um grupo de golpistas. Eram defensores de uma nova ditadura refugados pela turma que protestava ali contra a corrupção e pedia o impeachment da presidente.

Essa turma não queria golpistas declarados por perto. Os pró-ditadura foram empurrados para a calçada, a passeata andou e eles ficaram no Masp. Seriam uns 800.

É medonho ver pregadores de golpes desfrutando da sombra do maior acervo de arte do Brasil. Arte é liberdade. E golpistas querem o fim das liberdades, num projeto que nem o Lobão aceita liderar.

Enfim, esse pessoal terá com o que se ocupar a partir de amanhã, com a entrega do relatório da Comissão Nacional da Verdade ao governo. O presidente da Comissão, Pedro Dallari, já avisou:

– É até capaz que o leitor (de uma entrevista dele) ache nossas conclusões tímidas, pelas provas que vamos apresentar.

Esperemos. Foram 434 mortos ou desaparecidos durante o regime que assassinou, torturou e ocultou cadáveres. A Comissão vai pedir que todos os que cometeram crimes, como “agentes da ditadura”, sejam responsabilizados na Justiça.

Foi assim no Chile e na Argentina. Aqui, a anistia protegeu todo mundo e ficou como está, apesar das advertências da Corte Interamericana dos Direitos Humanos, da Organização dos Estados Americanos, de que não há anistia para torturadores.

É um momento grave demais para que se busque a sombra confortável da neutralidade. Ou o país oferece os suportes da democracia ao trabalho da Comissão, ou leva adiante a vidinha de resignado com os crimes da ditadura. Enquanto a turma refugada no Masp sente-se à vontade para pedir outro golpe.

Recebi do jornalista Almir Freitas, assessor de comunicação da Associação dos Transportadores de Passageiros de Porto Alegre, carta assinada pelo vice-presidente da ATP, Eloy Adalberto Dias dos Reis.

É uma resposta a texto que publiquei aqui na semana passada sobre o fracasso da licitação da prefeitura e sobre a necessidade de qualificar os serviços.

Reis enumera os obstáculos para as concessionárias: descaso dos governos com o transporte coletivo, obras de mobilidade urbana que não avançam, prioridade da política econômica ao uso do carro e prejuízos com passagens gratuitas (um em cada três passageiros anda de graça).

O dirigente diz que são 12 empresas explorando os serviços em Porto Alegre, o que descaracterizaria a formação de cartel. A carta é longa. Reproduzo aqui o trecho sobre o fracasso da licitação, que não atraiu interessados:

“Em reportagem veiculada por zerohora.com, no dia 25 de novembro, algumas empresas de fora do Estado e do Interior explicaram o motivo por que não participaram da licitação do ônibus: igualmente àquelas que aqui operam, os titulares das empresas ouvidas não querem perder dinheiro pelos próximos 20 anos. Por que não apareceu nenhum interessado de qualquer parte do mundo em uma licitação internacional? Diferentemente do que faria um ‘cartel’, a ATP apresentou os estudos à prefeitura antes da realização da licitação.


A resposta obtida foi a de que a licitação seria atrativa e apta a promover a competição. No entanto, a ausência de interessados confirmou-se como evidência cabal de que o modelo era de fato inviável, como apontado por especialistas”.

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