Anos 1960 e 1970, cultura e repressão
no Brasil, segundo Antonio Bivar
O consagrado dramaturgo Antonio Bivar nasceu
numa chácara aos pés da Serra da Cantareira, cercada pela Mata Atlântica, às
onze e meia da noite do dia 25 de abril de 1939. Em Mundo adentro vida afora:
autobiografia do berço aos trinta (L&PM Editores, 216 páginas, R$ 29,90), o
autor narra desde seu nascimento até os
30 anos, quando exilou-se em Londres. A aventura de um ano na capital
britânica, diga-se de passagem, foi contada em Verdes vales do fim do mundo,
obra também publicada pela L&PM.
A
autobiografia do autor de clássicos do moderno teatro brasileiro como Cordélia
Brasil, Abre a janela e deixa entrar o ar puro e o sol da manhã e O cão siamês
ou Alzira Power, em 62 textos, trata da infância, da juventude e do período de
jovem adulto de Bivar, mesclando acontecimentos pessoais com os fatos sociais,
políticos e culturais do Brasil do período.
Bivar
recebeu os principais prêmios da época, inclusive o Molière e o APCA. Sobre ele
falou Fernanda Montenegro: “Antônio Bivar tem a qualidade de ser o detonador de
um tipo de teatro contestador dos anos 1960. Criou entidades unissex,
personagens distantes do realismo e que possibilitam um jogo fascinante.”
As
décadas de 1960 e 1970, com seus tempos hippies de Flower Power, Guerra do
Vietnã, contracultura, maio de 1968, revolução sexual e experiências
psicodélicas estão marcadas no Brasil pela ditadura e aí surgiu um grupo de
jovens que criou a Nova Dramaturgia, entre eles Bivar, para registrar os
momentos de turbulência e efervescência.
Bivar
bebeu nas mais diversas fontes para
escrever sua obra, mas duas grandes paixões se destacam: as revistas ilustradas
da época, como O Cruzeiro, Revista da Semana e Revista do Globo, e o cinema dos
grandes estúdios norte-americanos, com suas starlets e grandes produções. Bivar
encantou-se com o teatro lendo Esperando Godot, de Samuel Beckett.
Norma
Bengell, Leila Diniz, Elis Regina, Danuza Leão, Antônio Houaiss, Millôr
Fernandes e Antônio Fagundes, entre muitos outros personagens, estão retratados
na obra, escrita com o distanciamento do tempo mas com o coração aberto. Enfim,
um painel vibrante daqueles tempos, que marcaram a história e a cultura do
Brasil.
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