KENNETH
MAXWELL
Uma celebração do amor
Elizabeth
Barrett Browning (1806-1861) foi uma das maiores poetas da Inglaterra. Seus "Sonnets
from the Portuguese "" A Celebration of Love" estão entre os
mais memoráveis da língua inglesa. E também do português. O soneto XLIII foi
traduzido maravilhosamente por Manuel Bandeira:
Amo-te
quanto em largo, alto e profundo/ Minh'alma alcança quando, transportada,/ Sente,
alongando os olhos deste mundo, /Os fins do Ser, a Graça entressonhada. /Amo-te
em cada dia, hora e segundo: /À luz do Sol, na noite sossegada. /E é tão pura a
paixão de que me inundo/ Quanto o pudor dos que não pedem nada./ Amo-te com o
doer das velhas penas;/ Com sorrisos, com lágrimas de prece,/ E a fé da minha
infância, ingênua e forte./ Amo-te até nas coisas mais pequenas./ Por toda a
vida. E, assim Deus o quiser,/ Ainda mais te amarei depois da morte.
Elizabeth
Barrett Browning era casada com o poeta Robert Browning (1812-1880). Ele morreu
em Veneza e está sepultado no Poets Corner da Abadia de Westminster, em Londres.
Visitei a abadia na semana passada. Havia esquecido que excêntrica ela é, como
uma velha loja de quinquilharias, repleta de tumbas de reis e rainhas e de
figurões britânicos, mortos há muito tempo.
O
canto dos poetas é igualmente estranho. O túmulo de Browning é marcado por uma
grande laje de pedra no chão. O nome de Elizabeth Barrett Browning está inscrito
aos pés do poeta, mas uma coroa de flores esmaecidas o obscurecia. Ela está sepultada
na Itália, no Cemitério Protestante de Florença, onde morreu.
Elizabeth
conheceu Robert Browning em 1845, em Londres. Ele era seis anos mais novo. Ela
vivia como reclusa e era viciada em morfina, receitada por seus médicos por
conta de dores crônicas nas costas e pulmões fracos. Estava de luto pela morte
de um irmão muito amado, que se afogou velejando em Torquay, no condado de
Devon. Na época, sua família vivia em Sidmouth, na costa de Devon.
Robert
e Elizabeth tiveram o mais célebre dos romances e casamentos silenciosos da
literatura. Renegada pelo pai e irmãos ricos, ela se mudou para Florença. Robert
a chamava de "minha pequena portuguesa", por conta do amor dela pela
obra de Luís de Camões. Elizabeth era ardorosa defensora dos direitos da
mulher, inimiga do trabalho infantil e abolicionista fervorosa, apesar de as
origens da fortuna de sua família estarem nas plantações de açúcar e na
escravatura da Jamaica.
Ela
escreveu para Robert os poemas de amor mais comoventes desde Shakespeare. Na
tradução de Manuel Bandeira, lhes ofereço o seu mais belo soneto como presente
neste dia de Natal.
KENNETH
MAXWELL escreve às quintas-feiras nesta coluna.
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