bernardo
mello franco
14/12/2014 02h00
Graça precisa
falar
BRASÍLIA
- As revelações de Venina Velosa, a nova mulher-bomba da Petrobras, mostram que
a esperteza às vezes tem vida curta. Na quarta-feira, o governo comemorava o
sepultamento de uma CPI que, em vez de investigar, fez vista grossa para a
corrupção na estatal. Na sexta, a aparição da geóloga transformou a manobra em pó.
A petroleira e sua presidente, Graça Foster, nunca estiveram tão na berlinda.
Os
e-mails revelados pelo jornal "Valor Econômico" são claros: Graça foi
avisada de desvios muito antes da Operação Lava Jato. Recebeu a primeira
mensagem em abril de 2009, quando ainda ocupava o cargo de diretora. Continuou
a ser informada depois de 2012, quando assumiu a presidência da companhia.
As
denúncias também chegaram ao atual diretor de Abastecimento, José Carlos
Cosenza. Convocados pela CPI chapa-branca, ele e Graça disseram que nada sabiam
das irregularidades. Como a Petrobras não negou o teor das mensagens, a
conclusão lógica é que seus dirigentes mentiram ao Congresso.
A
resposta ao "Valor" passou longe de esclarecer o caso. A petroleira
diz que adotou as "providências cabíveis", mas não explica quais
foram. Afirma que notificou as "autoridades competentes", mas não
consegue nomeá-las. Por fim, diz que demitiu um diretor em 2009, mas ele ficou
no cargo por mais quatro anos graças a uma licença. É difícil imaginar outra
empresa tão generosa com um funcionário pego em flagrante.
Acuada,
a Petrobras passou a atacar a denunciante. Na noite de sexta-feira, divulgou
outra nota, acusando-a de chantagem. Ao contrário dela, não apresentou provas.
Graça permaneceu em silêncio, enquanto as ações da estatal na Bolsa desabavam
pelo quinto dia seguido.
A
estratégia de se esconder atrás de notas não funciona mais. Se não entregar o
cargo nas próximas horas, Graça precisa vir a público logo e dar respostas
convincentes às acusações da ex-subordinada.
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