22
de dezembro de 2014 | N° 18021
MARCELO
CARNEIRO DA CUNHA
Vocês
viram, minha gente? No episódio mais recente de Homeland, na hora em que os
americanos são retirados da embaixada após o ataque do maldosíssimo Haqqani,
qual a marca do ônibus em que eles embarcam? Um meu, um seu, um nosso
brasileiríssimo Busscar! Pelo menos desse jeito o nosso Brasiu brasileiro se
faz presente no universo das séries de TV de nível mundial, não é mesmo?
E a
Netflix lançou a sua nova série, Marco Polo. Curiosamente, pelo que vemos,
nessa época distante, os chineses, os mongóis, os genoveses e todo mundo falava
inglês. Isso, sim, espanta muito mais do que as maravilhas que a série nos
mostra.
Marco
Polo nos é apresentado como filho de um comerciante italiano interessado na
Rota da Seda, ou pelo menos na parte “seda” da rota. Após uma viagem
interestelar de três anos desde a Itália até a China, nossos heróis são
recebidos na corte de Kublai Khan, neto de Gengis Khan, o terrível invasor de
todos os cantos do mundo incivilizado da época.
Os
mongóis invadiram a China, apenas para serem absorvidos por ela, como todos os
demais invasores o foram. O Ocidente era mais pobre, mais triste, mais frio,
mais bárbaro, na verdade. A China era imensamente mais rica e civilizada, e
tinha muito pouco a ganhar em trocas com europeus, motivo pelo qual
simplesmente ignorou o resto do mundo até o século 19, quando o resto do mundo
se tornou um tanto poderoso demais para ser ignorado.
As
narrativas de Marco Polo encantaram a Europa, assim como as histórias que
Américo Vespúcio levou daqui, e que renderam a ele o nome de todo o nosso
continente. Quem conta a história a define, é o que aprendemos.
A
Netflix resolveu contar a história de Marco Polo de olho nos mercados mundiais,
de maneira mais direta do que as suas outras séries. E então, americanamente e
nos fazendo lembrar da Hollywood dos velhos tempos, a Netflix fez todo mundo
falar inglês na história, e nem nos dá a opção de ouvir o áudio em mandarim, ou
cantonês, ou o que quer que se falasse na corte chinesa naquela época.
O
seriado tenta agradar com cenas de violência (e um mundo comandado por mongóis
não deve ter escassez delas), com cenas de sexo e com cenas de exotismo um
tanto poético. Pena. Melhor seria se mostrassem simplesmente o que Marco Polo
viu e que tanto o impressionou. Melhor seria sabermos o que um visitante do
mundo exterior via naquela China. Melhor seria se todos falassem as suas
línguas.
Mas,
aí, Netflix não seria o que parece que está se tornando rapidamente: Hollywood.
E é essa a sensação que se tem ao ver Marco Polo, algo ao mesmo tempo um pouco
triste e assustador. Como Hollywood, eu diria.
Abraços
a todos, e até a próxima.
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