Jaime Cimenti
Luta de uma menina contra o
irremediável
O
romance A cor do leite, da romancista e dramaturga inglesa Nell Leyshon,
nascida em Gladstonbury e atualmente residindo em Dorset, na Inglaterra, foi
indicado aos principais prêmios literários do planeta, tendo grande repercussão
na mídia norte-americana e na europeia. Nell é a primeira mulher a escrever uma
peça para o Shakespeare’s Globe e ganhou o Richard Imison Award por sua
primeira peça escrita para a BBC Radio. A cor do leite (Bertrand Brasil, 206
páginas), em síntese, é a história de uma menina que foi capaz de mudar o curso
de seu duro destino.
Em
1831, Mary, de 15 anos, decide escrever sua própria história. Tem a língua
afiada, cabelos da cor do leite, tão brancos quanto sua pele. Leva uma vida
dura, trabalhando com as três irmãs na fazenda da família.
O
pai é severo, se importa apenas com o lucro das plantações e lamenta ter apenas
quatro filhas mulheres, que não podem fazer os trabalhos mais pesados. Com
Mary, ele é ainda mais cruel. No verão, ela é enviada ao presbitério, onde sua
função será cuidar da esposa do pastor, mulher de saúde frágil. Não gosta da
nova casa, um mundo desconhecido, totalmente diferente do seu. Quer voltar para
a fazenda e para seu melhor amigo, o avô inválido e divertido. A mulher do
pastor gosta dela, uma menina simples e analfabeta, mas forte e decidida. Mary
não tem escolha, nunca teve. Não pode decidir a hora de ir embora.
Depois
de um ano, ela aprende a ler e escrever e tem urgência em contar a própria
história. O tempo é escasso e tudo o que ela quer é contar os motivos de suas
atitudes. O texto é escrito em primeira pessoa e todo em letras minúsculas. Sua
estrutura é típica de quem ainda não tem o controle pleno da linguagem. A jovem
intercala a história e as ações com opiniões, estas consideradas por alguns
críticos como os trechos mais angustiantes da narrativa. A linguagem, seca e
direta, envolve temas fortíssimos, como a supremacia masculina e o abuso de
poder.
No
início, a rotina simples e calma da vida rural da Inglaterra do século XIX e,
depois, as revelações do potencial de uma menina e de sua vida destruída pelas
piores falhas humanas. Mary tem muitas certezas, mas a principal é que homens e
feras têm muito em comum. Os leitores brasileiros vão se encantar com o poder
imaginativo da autora, a devastação sofrida pela protagonista e seu incrível
poder de superação
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