quinta-feira, 30 de outubro de 2014


30 de outubro de 2014 | N° 17968
PAULO SANT’ANA

História real portuguesa

De 12 em 12 anos, publico esta coluna, que é com certeza a melhor coluna divulgada neste espaço desde que foi criado, há 43 anos.

Cai-me nas mãos uma explicação de um operário português a uma companhia seguradora, que estranhou a forma como ele fora vítima de um acidente de trabalho, tendo a empresa em questão que indenizá-lo pelos ferimentos generalizados que sofreu. Segundo a informação que acompanha o texto, o caso é verídico e foi julgado pelo Tribunal de Justiça de Cascais, Portugal, sendo a transcrição abaixo conseguida junto à companhia seguradora. Recomendo que leiam com pausa e atenção a espetacular narrativa:

“Excelentíssimos senhores: sou assentador de tijolos. No dia do acidente, estava a trabalhar sozinho no telhado de um edifício novo de seis andares. Quando acabei o meu trabalho, verifiquei que tinham sobrado 350 quilos de tijolos. Em vez de os levar à mão para baixo, decidi colocá-los dentro de um barril, com a ajuda de uma roldana, a qual, felizmente, estava fixada num dos lados do edifício, no sexto andar.

Desci e atei o barril com uma corda, fui para o telhado, puxei o barril para cima e coloquei os tijolos dentro. Voltei para baixo, desatei a corda e segurei-a com força, de modo que os 350 quilos descessem devagar (note-se que meu peso era de 80 quilos). Devido a minha surpresa, por ter saltado repentinamente do chão, perdi minha presença de espírito e esqueci-me de largar a corda. É desnecessário dizer que fui içado do chão a grande velocidade”.

Prossegue o operário português: “Na proximidade do terceiro andar, eu bati no barril que vinha a descer. Isso explica a fratura no crânio e a clavícula partida. Continuei a subir a uma velocidade ligeiramente menor, não tendo parado até os nós dos dedos estarem entalados na roldana. Felizmente, já tinha recuperado a minha presença de espírito e consegui, apesar das dores, agarrar a corda. Mais ou menos ao mesmo tempo, o barril com os tijolos caiu no chão e o fundo partiu-se. Sem os tijolos, o barril pesava aproximadamente 25 quilos (note-se novamente que eu tinha 80 quilos).

Como podem imaginar, eu comecei a descer rapidamente. Próximo ao terceiro andar, encontro o barril, que vinha a subir. Isso justifica a natureza dos tornozelos partidos e das lacerações nas pernas, bem como na parte inferior do corpo. O encontro com o barril diminuiu a minha descida o suficiente para minimizar os meus sofrimentos quando caí em cima dos tijolos e só fraturei três vértebras.


Lamento, no entanto, informar que, enquanto caído em cima dos tijolos, com dores, incapacitado de me levantar e vendo o barril acima de mim, perdi novamente a presença de espírito e larguei a corda. O barril pesava mais do que a corda e, então, desceu e caiu em cima de mim, partindo-me as duas pernas. Espero ter dado a informação solicitada do modo como ocorreu o acidente”.

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