27
de outubro de 2014 | N° 17965
CÍNTIA
MOSCOVICH
AS MÍDIAS E O RESSENTIMENTO
Estive
viajando e não votei nem assisti aos debates no primeiro turno das eleições. Pela
internet, no entanto, pude acompanhar a verdadeira guerra entre eleitores
adversários nas “mídias sociais”. Mesmo que nada mais me espante, me assustei
com o grau de agressividade e de estupidez que vi.
Ao
mesmo tempo, em algum aeroporto, comprei o novo livro de Luiz Felipe Pondé, A Era
do Ressentimento: uma Agenda para o Contemporâneo, autor de quem já havia lido
o divertido (ainda que desesperançado) Guia Politicamente Incorreto da
Filosofia.
Pondé
é daqueles sujeitos a quem as pessoas amam ou odeiam, do tipo Reinaldo Azevedo
ou Olavo de Carvalho, assim como eram, vá lá, Diogo Mainardi ou Paulo Francis. Reunindo
ensaios e aforismas, A Era do Ressentimento pode ser lido até o fim num voo
Porto Alegre-São Paulo. Com uma pegada bem conservadora, mas sem nenhum
problema em atirar pedras em todos os telhados, Pondé é severo com os contemporâneos:
mesmo vivendo na época de maior riqueza que o mundo já conheceu, diz ele, somos
uns ressentidos.
Não
temos noção de limites, achamos que sabemos tudo, queremos espetáculos para
celebrar nossa felicidade e, principalmente, não sabemos escutar nenhuma crítica
sem achar que é uma questão de ofensa pessoal. Com sinceridade, acho que Pondé (e
Nietzsche, que é uma constante em seus textos) tem razão.
À luz
de um certo impacto pela leitura, vendo o que vi nas tais “mídias sociais”,
brigas que envolviam até a mãe, pensei que o narcisismo e o individualismo,
teclas nas quais batem e rebatem todos os autores do mundo, estão tirando das
gerações mais novas, e das nem tanto, a noção do ridículo – xingar por causa de
partido político é tão burro quanto brigar por causa de futebol.
A
agressão, a atitude impositiva, a violência, tudo isto vem de nosso despreparo
para conviver com o outro e até para a democracia. Não sei o que as urnas terão
revelado, mas, seja o que for, espero que tenhamos aprendido com nossos próprios
ressentimentos e que tenhamos eleito os melhores.
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