VINICIUS
TORRES FREIRE
Os pobres, sempre convosco
Dilma
perdeu 15% dos votos de 2010, em especial na cidade grande, mas manteve o voto
pobre
O
DESGASTE de quatro anos no poder, da economia lerda, dos protestos de junho de
2013, de petistas graúdos na cadeia e outros escândalos enfim não fizeram um
estrago terminal na votação de Dilma Rousseff. Pelo menos é o que parece quando
se compara a votação da candidata-presidente petista na penúltima pesquisa
Datafolha de 2010 com a de 2014. Apesar de todos esses pesares, o estrago não
foi mesmo tão grande.
É
verdade que no fim da semana que antecedeu a votação de 2010, Dilma tinha mais
da metade dos votos válidos, um pouco menos (50%), considerada a margem de erro
de dois pontos percentuais. Poderia levar no primeiro turno. Dez dias antes da
votação do primeiro turno, a candidata estreante tinha mesmo folga para vencer
no primeiro turno. O escândalo envolvendo sua assessora Erenice Guerra levou a
votação para a segunda rodada.
Na
votação bruta, Dilma tinha 47%; neste ano, 40%. Uma baixa de uns 15%. Seus
adversários diretos em 2010, José Serra e Marina Silva, somavam 42% dos votos;
neste ano, Marina e Aécio Neves somam 45%. A disputa é mais dura.
Como
mais ou menos se sabe, o prestígio eleitoral de Dilma sofreu baixas maiores nas
regiões metropolitanas, no Sudeste, entre os mais ricos, e os mais jovens.
Nesses recortes do eleitorado, a candidata-presidente perdeu mais votos que na
média do país.
No
Sudeste, a sangria de votos foi de mais de 25% de 2010 para 2014, mais ou menos
a mesma proporção registrada nas regiões metropolitanas e entre os eleitores
com menos de 24 anos. No Nordeste, a queda não chegou a 7%, mesmo com o
fenômeno Marina Silva-Eduardo Campos em Pernambuco.
Sim,
Dilma perdeu 20% da votação que tivera entre os eleitores mais
"ricos", de famílias com renda superior a dez salários mínimos. Mas
esse eleitorado é muito minoritário (uns 5% ou 6% da amostra mais recente do
Datafolha).
A
devastação mais significativa ocorreu em cidades como São Paulo e Rio, dentro
daquilo que se pode analisar, dados os recortes feitos pelo Datafolha.
Dilma
perdeu 35% da votação que tivera em 2010 no Estado de São Paulo. Perdeu brutais
42% dos votos na cidade de São Paulo. No Estado do Rio, sua votação no
Datafolha baixou 23%; na cidade, 39%. Curiosamente, ganhou votos entre os
gaúchos e porto-alegrenses.
Perdeu
pouco entre os mais pobres, aqueles eleitores de famílias com renda inferior a
dois salários mínimos (tinha 52% em 2010, tem 50% agora). Queda de apenas 4%,
embora tenha diminuído um tanto a proporção desse eleitorado.
A
mudança no perfil do eleitorado de Dilma, em termos gerais e pensando apenas
nesses grandes agregados, não parece muito diferente daquela que ocorreu com os
eleitorados de Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva: empobrecimento,
interiorização.
A
queda violenta do prestígio presidencial em grandes cidades e entre jovens
provoca a tentação de associar a perda de votos às mudanças de humores
provocadas pelos protestos de junho de 2013. Pode ser, mas é preciso fuçar
melhor esses e outros dados, além de esperar o resultado de hoje, antes de
avançar o sinal. De mais certo, o PT manteve o povo pobre consigo.
vinit@uol.com.br
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