sábado, 11 de outubro de 2014


12 de outubro de 2014 | N° 17950
ANTONIO PRATA

O chapeiro e o dono da padaria

As vitórias da Dilma, no Nordeste, do Aécio, no Sudeste, e a mesma divisão mostrada pelo Datafolha para o segundo turno ressuscitaram o velho preconceito de que pobre não sabe votar. Os mais ricos e escolarizados escolheriam racionalmente e votariam no PSDB, enquanto os mais pobres e com menos anos de estudo, iludidos pelas “esmolas” e falsas promessas do governo, fechariam com o PT.

Essa ideia equivocada deriva de uma falsa premissa: a de que existiria o voto certo e o errado. Candidaturas não representariam interesses distintos de diferentes camadas da sociedade, mas sim a verdade ou a mentira. Uma eleição não seria, portanto, uma escolha entre múltiplas propostas, mas se assemelharia àquele golpe em que, sobre um tabuleiro, uma pessoa vai rolando uma bolinha e a escondendo cada hora sob um de três copos; no fim, você tem que descobrir qual copo esconde a bola, quais estão vazios; qual candidatura é a certa, boa para todos, quais são as vazias, querendo nos enganar.

Ora, bolas, o Nordeste não deu 60% dos seus votos à Dilma porque foi enganado por ela. Deu porque, sob o governo do PT, as condições de vida daqueles milhões de eleitores melhoraram. E o Mensalão? E o escândalo da Petrobras? E a inflação? Nada disso conta? Não a ponto de escolherem outro candidato. É um voto racional.


A mesma coisa vale para os 39,45% do Aécio, no Sudeste. O Sudeste é mais rico, vê seus interesses representados pelo candidato, não precisa tanto de programas sociais – só quer menos Estado, evidentemente, quem não depende dele. E o Mensalão mineiro? E o escândalo do metrô? E a compra de votos pra reeleição? Nada disso conta? Não a ponto de escolherem outro candidato. É um voto racional.

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