sexta-feira, 10 de outubro de 2014


Março de 1964 visto por contistas brasileiros

Nos idos de março – A ditadura militar na voz de 18 autores brasileiros (Geração Editorial, 288 páginas, R$ 29,90) com organização do consagrado e premiado  escritor, jornalista  e professor Luiz Ruffato, apresenta, antes e acima de tudo, um inesquecível março de 1964, na ótica de nossos escritores, que colaboraram com contos para a edição.

Entre muitos nomes fundamentais da literatura brasileira, estão os gaúchos João Gilberto Noll e Flávio Moreira da Costa, com os contos Manobras de um soldado e Alguma coisa urgentemente. Março de 1964, início do período da ditadura militar no Brasil, jamais sairá de nossa lembrança e os relatos, como era de se esperar, tratam da falta de liberdade, da violência e do arbítrio que marcaram a época.

As narrativas de Antônio Callado, Wander Piroli, Roberto Drummond (com o célebre conto A morte de D.J. em Paris), Nélida Piñon, Frei Betto, Luiz Fernando Emediato, Ignácio de Loyola Brandão, Domingos Pellegrini, Ivan Ângelo, Sérgio Sant’Anna, Roniwalter Jatobá, Maria José Silveira, Julio Cesar Monteiro Martins, Fernando Bonassi e Paloma Vidal mostram alegorias, situações diversas de crueldade e a violência indireta que atingia pessoas, situações e muitas partes do território.

Naqueles tempos, os contos e os romances tinham que passar pela censura, um verdadeiro “corredor polonês” e muitos saíram cifrados, alegóricos, metafóricos para poderem chegar ao público. Não poucas obras de ficção do período adotaram um realismo melancólico em que o exílio, a pátria, a tortura e as desilusões se perpetuavam, num ciclo depressivo.

Os escritores não podiam falar claramente naquele período e, no dizer de Ruffato, na apresentação, “esta antologia é um retrato preciso daqueles dias, que ainda lançam seus raios sombrios sobre os dias atuais e, até que se dissipem, muitos dos males congênitos da sociedade brasileira terão de ser extirpados por, entre outros fatores, uma literatura beneficiada pela democracia e engajada na denúncia livre”.


Oficialmente, a ditadura acabou em 1985, com o movimento das Diretas Já nas ruas do País, mas os efeitos do desmanche da cultura, educação e civilidade promovido pelo regime se perpetuaram e ainda mostram suas marcas autoritárias. Esta coletânea é um excelente material ficcional para reflexão e busca de novos horizontes.

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