sábado, 25 de outubro de 2014


25 de outubro de 2014 | N° 17963
NÍLSON SOUZA

DEVAGAR

Na era da ansiedade e da Ritalina, é muito bem-vindo esse movimento que incentiva a desaceleração da rotina dos pais para que os filhos não se sintam pressionados a participar de múltiplas atividades. Fomos ludibriados pela tecnologia, que nos prometeu tempo livre e nos tornou dependentes de suas artimanhas. A telinha dos computadores e dos smartphones tem um poder hipnótico muitas vezes superior ao da televisão, que já foi considerada uma perversa babá eletrônica.

Agora, com a possibilidade de interagir, não há criança (nem adulto) que resista à magia digital. Para compensar o imobilismo e a fixação por joguinhos, muitos pais tratam de sobrecarregar as crianças com cursos, esportes que elas não pediram para praticar e outras tarefas que as ocupem enquanto eles se envolvem com seus afazeres. Brincar, sem qualquer finalidade educativa, raramente entra na programação.

Mas faz falta. O excesso de tarefas, conjugado com as inevitáveis atrações da tecnologia, gera crianças ansiosas, com dificuldade para se comunicar e até mesmo para se relacionar com as outras. Por isso, os seguidores do movimento denominado “pais sem pressa” defendem a tal desaceleração deles e dos filhos, para que possam desfrutar alguns momentos juntos. Reservam, assim, um espaço do dia para simplesmente brincar, não fazer nada ou praticar uma atividade prazerosa.

Não sei se a leitura de livros tradicionais está na agenda do movimento, mas tenho certeza de que essa é uma atividade bem mais saudável do que entregar um tablet à criança para que ela se distraia. Quando os pais leem para os filhos, ambos exercitam não apenas a comunicação, mas também a imaginação e as emoções. Também é importante observar que alguns estudos recentes com crianças que sabem ler indicam que a percepção do conteúdo é maior nos livros tradicionais, pois nos tablets geram mais distração.

São motivos mais do que suficientes para que os pais, acelerados ou não, reservem um tempinho para passar na Feira do Livro que começa na próxima semana, em Porto Alegre. E levem as crianças.


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