26
de outubro de 2014 | N° 17964
MARTHA
MEDEIROS
A nova juventude
O
que não falta é frase satirizando a primeira etapa da vida. Exemplo: A
juventude é um defeito facilmente superável com a idade. Outro: A juventude é uma
coisa maravilhosa, pena desperdiçá-la em jovens. Quem ultrapassou essa fase
dourada hoje olha para ela com certo desprezo. Não de todo equivocado: a
maturidade, de fato, se não é nosso período mais fértil, certamente é o mais
sabido. Algum benefício tinha que trazer essa tal passagem do tempo.
No
entanto, em vez de fazer coro com a soberba habitual dos maduros, vale dar uma
espiada mais generosa para a garotada. Afora os neorretardados que proliferam
nas redes esbanjando pobreza de espírito, a geração atual tem uma postura mais
humanizada em relação a questões importantes da vida. Vale a pena escutá-los.
O
tema da homossexualidade, ainda debatido à exaustão na mídia, já saiu de pauta
entre os adolescentes. Nada mais natural do que meninos e meninas namorarem
parceiros do mesmo sexo. Ser favorável ou desfavorável à causa gay? Concordo
com eles: chega a ser constrangedor a gente se declarar a favor ou contra o que
não nos diz respeito. É muita arrogância.
Quanto
à busca por uma profissão, mudanças visíveis também. O dinheiro continua sendo
uma preocupação, mas já não ocupa o topo das paradas. O que se deseja é fazer
diferença para a sociedade, trabalhar no que se gosta, personalizar sua atuação,
deixar marcada uma ideia, uma consciência, um caminho diferente, um novo olhar.
Nem que para isso se invente uma profissão que nunca existiu, que se formalizem
atividades que antes não eram consideradas. Estudar segue fundamental, mas a
sequência colégio-vestibular-faculdade vem ganhando bifurcações. Se a
felicidade não estiver na vida sólida e estável que os pais sonharam, paciência.
Os sonhos dos velhos terão que se adaptar a uma realidade menos regrada.
Sim,
ainda existem os adolescentes convencionais, que sonham com casamentos
convencionais e empregos convencionais e que querem enriquecer, consumir e ser “alguém”.
A diferença é que esse “alguém” padrão, que se amparava em hierarquias para
estabelecer juízos de valor, não representa o jovem moderno que quer construir
uma sociedade mais horizontalizada. A noção de riqueza está mudando de foco: ir
para o trabalho de bicicleta pode dar mais status a um profissional do que
conquistar uma vaga no estacionamento reservado aos patrões.
Outro
dia falava sobre tatuagens com duas garotas e me peguei aplicando o velho
discurso a respeito do cuidado que elas deveriam ter antes de tomar decisões
definitivas. Foi quando me dei conta de que até o definitivo mudou de configuração.
Elas não veneram o “pra sempre” – o que acho ótimo, mas então por que fazer uma
tatuagem? Simplesmente para homenagear uma etapa da vida. Não haverá arrependimento
se o assunto não for levado com tanto drama. Tatuagem deixou de ser uma
condecoração vitalícia. Nada mais é vitalício.
Basta
que seja sustentável.
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