quinta-feira, 30 de outubro de 2014


30 de outubro de 2014 | N° 17968
CAPA

No balanço do síndico

Cinebiografia TIM MAIA estreia hoje nos cinemas destacando o brilhantismo musical e a conturbada trajetória do popular cantor carioca

Se as saborosas 400 páginas da biografia Vale Tudo O Som e a Fúria de Tim Maia, lançada em 2007 pelo jornalista Nelson Motta, pareceram pouco para enquadrar o gigante rebelde da música brasileira, desafio maior é sintetizar a turbulenta trajetória deste grande artista nos 140 minutos do filme inspirado neste livro.

Para concentrar seu foco narrativo, Tim Maia, o filme, com direção de Mauro Lima, faz um recorte entre a juventude do artista no bairro carioca da Tijuca, nos anos 1950, e seu apogeu e derrocada pessoal, no final dos anos 1970. Há ainda referências à volta por cima de Tim nos anos 1980 e, brevemente, à morte, em 1998, do ídolo imortalizado como o “síndico” pelo amigo Jorge Ben Jor no hit W/Brasil.

Dois atores foram escalados para interpretar Tim nas diferentes fases: Robson Nunes, na juventude, e Babu Santana (foto abaixo), a partir da década de 1970. Eles trabalharam juntos para dar unidade ao registro do personagem.

– Se você olha as fotos do Tim, encontra três pessoas diferentes: o jovem de aspecto fofo, a fase black power dos anos 1970 e aquele cara das camisas de lamê dos anos 1980. Com um ator só, não seria possível dar conta – disse Lima no lançamento do filme em São Paulo, na segunda-feira.

Tim Maia segue um modelo de narrativa de longas como O Lobo de Wall Street, de Martin Scorsese, referência listada pelo diretor.

– Como a história cobre um período de muitos anos, já no primeiro tratamento do roteiro identificamos a necessidade de ter um narrador em off – explicou Lima. – E tinha de ser a voz de alguém próximo do Tim, como o (músico) Fábio, que deu guarida a ele no início da carreira e o acompanhou por muitos anos. É uma história heterodoxa, sai fora da curva da biografia tradicional, e preferimos mostrar uma face de Tim não muito conhecida.

Fábio (interpretado por Cauã Reymond) é o nome artístico adotado pelo paraguaio radicado no Brasil Juan Senon Rolón, aspirante a ídolo da Jovem Guarda nos anos 1960. Em 2007, ele lançou o livro Até Parece que Foi Sonho – Meus 30 Anos de Amizade e Trabalho com Tim Maia, também fonte de pesquisa do filme.

Mauro Lima, que dirigiu também a cinebiografia Meu Nome Não É Johnny (2008), explica que, além do livro de Motta, recorreu a outras referências para escrever o roteiro com Antonia Pellegrino. Junto a personagens reais, o longa apresenta figuras fictícias como Janaína (Alinne Moraes), jovem que sintetiza as arrebatadoras paixões e as grandes fossas em que desabou o gigante de coração mole.

Entre segmentos emblemáticos do filme, estão o rompimento do cantor com Roberto Carlos (veja na página 6) e o consumo industrial que Tim fazia de drogas e álcool. A risível caracterização de Roberto pelo ator George Sauma, aliás, é um ponto dissonante na caprichada reconstituição de época que relembra em alto volume a genialidade musical de Tim, impressa nos muitos sucessos enfileirados no início da carreira.

– É uma obra de ficção, mas nada do que está no filme saiu da minha cabeça. Esse episódio com o Roberto está inclusive no livro que o Roberto proibiu – destaca Lima.

marcelo.perrone@zerohora.com.br


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