ELIO GASPARI
Um mandato inédito
Em 2002,
na versão 1.0, Romanée-Conti; em 2014, na 2.0, a suíte do Copa, com direito a
mordomo
Os
eleitores deram ao PT um mandato inédito na história nacional. Um mesmo partido
ficará no poder nacional por 16 anos sucessivos. A doutora Dilma reelegeu-se
num cenário de dificuldades econômicas e políticas igualmente inéditas. Lula
recebeu de Fernando Henrique Cardoso um país onde se restabelecera o valor da
moeda. Ela recebe dela mesma uma economia travada. Tendo percebido o tamanho da
encrenca, em setembro anunciou a substituição do ministro Guido Mantega. Por
quem, não disse. Para quê, muito menos.
A
dificuldade política será maior. As petrorroubalheiras devolveram o PT ao
pesadelo do mensalão. Em 2005 o comissariado blindou-se e desde então fabrica
teorias mistificadoras, como a do caixa dois, ou propostas diversionistas como
a da necessidade de uma reforma política. Pode-se precisar de todas as reformas
do mundo, mas o que resolve mesmo é a remessa dos ladrões para a cadeia. O
Supremo Tribunal Federal deu esse passo, formando a bancada da Papuda. Foi a
presença de Marcos Valério na prisão que levou o "amigo Paulinho" a
preferir a colaboração à omertà mafiosa.
Dilma
teve uma atitude dissonante em relação às condenações do mensalão. Protegeu-se
sob o manto do respeito constitucional às decisões do Judiciário. No debate da
TV Globo, quando Aécio Neves perguntou-lhe se achou "adequada" e pena
imposta ao comissário José Dirceu, tergiversou. Poderia ter seguido na mesma
linha: a decisão da Justiça não deve ser discutida. Emitiu um péssimo sinal
para quem sabe que as petrorroubalheiras tomarão conta da agenda política por
muito tempo.
Será
muito difícil, e sobretudo arriscado, tentar jogar o que vem por aí para baixo
do tapete. Ou a doutora parte para a faxina, cortando na carne, ou seu governo
vai se transformar num amestrador de pulgas, de crise em crise, de vazamento em
vazamento, até desembocar nas inevitáveis condenações.
O
comissariado acreditou na mágica e tolerou o contubérnio do PT com o PP
paranaense do deputado José Janene. A proteção dada aos mensaleiros amparou o
doutor e ele patrocinou a indicação do "amigo Paulinho" para uma diretoria
da Petrobras. Ligando-se ao operador Alberto Youssef, herdeiro dos contatos de
Janene depois que ele morreu, juntaram-se aos petropetistas e a grandes
empresas. O resultado está aí.
Em 2002,
depois do debate da TV Globo, Lula foi para um restaurante do Rio e comemorou
seu desempenho tomando de uma garrafa de vinho Romanée-Conti que custava R$ 9.600.
A conta ficou para Duda Mendonça, o marqueteiro da ocasião. Quem achou a cena
esquisita pareceu um elitista que não queria dar a um ex-metalúrgico emergente
o direito de tomar vinho caro. Duda confessou que fazia suas mágicas com o
ervanário do mensalão.
Passaram-se
doze anos e os repórteres Cleo Guimarães e Marco Grillo mostraram que, na
semana passada, Lula esteve em São Gonçalo, onde disse que "a elite
brasileira não queria que pobre estudasse". Seguiu da Baixada Fluminense
para a avenida Atlântica e hospedou-se no Copacabana Palace, subindo para a suíte
601, de 300 metros
quadrados , com direito a mordomo. Outros sete
apartamentos estavam reservados para sua comitiva.
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