24
de outubro de 2014 | N° 17962
DAVID
COIMBRA
Os derrotados da eleição
Eis.
Chega ao fim a mais triste campanha eleitoral da história da República
brasileira. Durante meses, os candidatos e seus furiosos apoiadores se
empenharam em mostrar ao Brasil e ao mundo quais são os piores entre eles. Conseguiram.
A conclusão é que eles são, de fato, horríveis. Ambos.
No
primeiro turno, mesmo a distância, assisti ao espantoso processo difamatório
movido contra uma das pessoas mais dignas que encontrei na política: Marina
Silva. E, não, não sou eleitor de Marina. Se estivesse no Brasil, não votaria
nela. Não por ela ser evangélica ou coisa que o valha. Até porque o fato de ela
ser evangélica seria um ponto a seu favor, se lhe fosse dar o voto: as pessoas
evangélicas que conheci têm mais escrúpulos e menos propensão ao roubo do que a
maioria dos católicos e ateus de Brasília.
São
outras as razões que fazem com que não seja eleitor de Marina. Mas isso não vem
ao caso. O que vem é que a conheci pessoalmente, entrevistei-a, e sei que é uma
mulher admirável, honesta, sincera e incapaz de descer ao pântano de que vieram
seus acusadores. Por isso mesmo, por estar muito acima dos que trabalharam
solertemente para destruí-la, Marina não foi ao segundo turno. O que talvez
tenha sido muito bom para Marina, e nem tanto para o Brasil.
A
ganância pelo poder e o medo de perdê-lo são tão grandes, que transformaram a
eleição num vale-tudo moral. Ou imoral.
Então,
passaram para o segundo turno as seguintes opções:
1. O
governo do PT, com histórico de casos de corrupção em pelo menos sete ministérios
nesta gestão, tendo, por fim, desmantelado moralmente a maior empresa do país,
a Petrobras, e sendo apoiado por todos os que o PT sempre combateu: Maluf,
Collor, Sarney, Jader Barbalho, Renan Calheiros et caterva.
Eis.
Aqui estamos.
Por
que o Brasil não conseguiu construir uma terceira via aceitável? Por que nunca
surge um projeto real de país? Esse é o nosso drama. De qualquer forma, seja
quem for o vitorioso, ele já começará seu governo derrotado, porque virá do
submundo ao qual desceu a campanha eleitoral.
Prevejo
anos difíceis para o Brasil.
Mas
espero que o próximo governo seja, pelo menos, honesto. Seria uma base para se
construir uma nação de verdade, uma nação que zele igualmente por todos os seus
cidadãos, mas que proteja os mais fracos, como crianças, mulheres e idosos;
uma
nação que entenda que ter autoridade é diferente de ser autoritário; que
mantenha os bandidos na cadeia, mas que a cadeia seja um lugar em que um ser
humano possa viver com dignidade, porque a sociedade pode e deve punir, e
nunca, nunca se vingar; uma nação que devolva a cidade às pessoas, que resolva
conflitos em vez de promovê-los, que compreenda que a cidadania se forma na infância,
com educação básica e fundamental; que proteja a natureza da cobiça; que saiba
que a beleza e a arte fazem bem ao pobre e ao rico na mesma medida; que tenha
claro nas consciências que todas as pessoas, de qualquer cor, credo ou classe,
sentem a mesma necessidade universal, básica e fundamental: de viver,
trabalhar, criar seus filhos e morrer em paz.
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