07
de outubro de 2014 | N° 17945
VIDA
DIGITAL | CELULAR DESDE CEDO
Mundo na palma da
mãozinha
PESQUISA
DO IBGE revela que 58,7% das crianças e adolescentes entre 10 e 14 anos da
Região Sul têm telefone móvel. Especialistas apontam que pais devem acompanhar
o uso e evitar que se transforme em atividade única
Luiza
Macagnan, 12 anos, ganhou o primeiro telefone no sexto aniversário. Teve
diferentes modelos e, hoje, faz selfies com um sonhado iPhone. Nascidos no
mundo virtual, ela e os colegas estão no grupo dos 58,7% de crianças e
adolescentes entre 10 e 14 anos na Região Sul que têm celular. O número,
colhido em 2013 e divulgado em setembro na Pesquisa Nacional por Amostra de
Domicílios (Pnad), significa um acréscimo de quase 20 pontos percentuais em
cinco anos – em 2008, 39,5% da gurizada dessa faixa possuía esse tipo de
aparelho.
É a
geração dos “nativos digitais”, que joga, manda mensagens e, eventualmente,
telefona. A psicóloga Carolina Lisboa, professora da PUCRS, diz ainda serem
recentes os estudos sobre o impacto na cognição – função do cérebro responsável
pela apreensão de conteúdos – das crianças. O certo é que podem influenciar o
comportamento dos usuários mirins, principalmente porque boa parte dispõe de
acesso à internet.
– Os
pais precisam ficar atentos ao tipo de sites em que eles navegam, quais as
conversas, se estão se passando fotos e de que tipo são essas fotos – salienta
Carolina.
Os
aparelhos podem afetar a atenção, e o uso exagerado também pode provocar o
aumento da ansiedade. Muitos pais dão o telefone para os filhos como uma forma
de monitorar onde estão e com quem andam, mas é preciso que eles também ajudem
a criança a desenvolver maturidade para lidar com tamanha liberdade na palma da
mão.
Sete
horas de conversa no aplicativo Face Time é o recorde recém alcançado por
Luiza. Ela papeia com as colegas até enquanto passeia com Puppy, o yorkshire da
família. A mãe, a administradora Rita de Cássia Cardoso, 34 anos, estabeleceu
apenas uma regra: para que Luiza se alimente corretamente e socialize com a
família, não pode levar o celular para a mesa. Rita aprova o uso porque
possibilita que esteja em contato com a filha durante todo o dia. A
administradora liga para ver se Luiza chegou bem na escola e manda mensagem no
Whats- App para perguntar a que horas deve buscá-la no curso de inglês.
ESCOLAS
DEVEM LIDAR DE FORMA CRIATIVA
Quando
a mãe está no trabalho, a filha envia fotos de páginas dos cadernos,
comprovando que fez o tema. A apreensão do equipamento é o castigo mais temido pela
jovem. Certa vez, Rita confiscou o aparelho após uma resposta “torta” da
menina.
–
Foi o pior dia da minha vida – dramatiza a adolescente.
Professora
de Psicologia da Educação na UFRGS, Tânia Marques não se arrisca a estabelecer
limites de horas para utilização:
– Se
é uma atividade a mais que contribui para melhorar a vida, facilitando
comunicação e acesso à informação, maravilha. O alerta é quando se deixa de ter
outras atividades para aquela ser a única.
Além
dos pais, as escolas devem arranjar formas criativas de lidar com o celular, de
acordo com Léa Fagundes, coordenadora de pesquisa no Laboratório de Estudos
Cognitivos do Instituto de Psicologia da UFRGS. Ela cita o uso do Instagram em
aulas práticas, para registrar vegetais e solos, por exemplo.
– As
crianças devem ser orientadas, deve-se descobrir coisas que se pode fazer e são
úteis – defende Léa.
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