Jaime Cimenti
Luiz Guimarães estreia na
ficção
O
romance Vinhas da peste (AGE, 200 páginas, R$ 48,00, prefácio de Luiz Antonio
de Assis Brasil) marca a estreia do jornalista Luiz Guimarães na literatura de
ficção. A narrativa, que foi trabalhada por muitos anos, teve inspiração no
surto de febre aftosa ocorrido em 2000 na cidade gaúcha de Jóia. Na época, Guimarães,
que anteriormente atuou no Correio do Povo como editor e chefe de reportagem,
trabalhava como repórter na sucursal da extinta Gazeta Mercantil e acompanhou,
de perto e passo a passo, todos os acontecimentos.
Atualmente,
Luiz Guimarães é editor de Economia do Jornal do Comércio. Antes de tudo, é
preciso dizer que o autor, ao contrário de muitos aí, meio apressados,
trabalhou e revisou várias vezes o texto antes da publicação e o resultado é
uma estreia madura e promissora. Em meio à peste que precipitou o sacrifício de
milhares de animais e que transtornou em definitivo a vida da cidade, na ficção
com toques de realismo mágico e fantástico do autor, surge um terrível serial
killer que amedronta a comunidade, vitimando mulheres.
Aí a
narrativa ganha elementos de romance policial e, para completar a atmosfera já
carregada de Cerritus, a cidade imaginária do romance, um vinho misterioso e
afrodisíaco produzido em segredo na localidade, que animaliza as pessoas, vai
agitar muita gente.
Guimarães
decidiu dar alma, sentimentos e expressões humanas aos animais e, assim, o
coronel, o pastor, o secretário, o delegado e os demais personagens de
Cerritus, Bolacha, Clube das Serpentes e das estâncias Mate Amargo e Touro Fino
vão participar de um convívio muito estranho com os bichos. O romance instaura
um clima ficcional bem singular. Na apresentação, o romancista Assis Brasil dá
os parabéns ao novo escritor e refere que “apropriando-se de um material comum
(o pampa e suas circunstâncias) diz-nos algo de novo”.
É
por aí. Além de ter trabalhado
ficcionalmente locais, acontecimentos e até divergências políticas entre
partidos (PT e PSDB) que, antes, não constavam da geografia da literatura
rio-grandense, Luiz Guimarães o fez com
toques estilísticos ousados e criativos.
Quer
dizer, a obra, pela forma e pelo conteúdo, cria seu espaço próprio e vai muito
além de ser apenas mais um romance de
temática regional. Bem-vindo, Luiz Guimarães, ao Clube dos Romancistas Gaúchos.
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