07
de agosto de 2014 | N° 17883
LUCIANO
ALABARSE
PÉROLAS A
DESCOBRIR
Sou
um esquerdista desconfiado, como diria Caetano. Nunca me filiei a partidos
políticos, admiro políticos de partidos diferentes e quero votar certo. Não vou
anular meu voto nem acionar o piloto automático na urna. Sem triunfalismo e sem
demagogia. Não gosto do clima apocalíptico que antecede as eleições
brasileiras. A demonização do adversário, hoje prática corrente, é uma atitude
deletéria.
A
ideia absolutista que marcou a história das religiões se deslocou, no Brasil,
para a disputa política. Quem disse isso foi o Gabeira, em artigo de jornal.
Eleição não deveria ser sinônimo de reducionismo pragmático. Nem de vitória a
qualquer preço.
Num
mundo cada vez mais beligerante (calote argentino/ avião derrubado na Ucrânia/
epidemia do ebola/ bombardeios em Gaza/ sequestro de meninas na Nigéria), o
fanatismo partidário só atrapalha. Não gosto da expressão ou da ideia de ser “soldado
do partido”. Nem do partido/ nem do teatro/ nem de nada: não sou soldado. Onde
querem revólver, sou coqueiro.
Se
apresento dúvidas quanto à próxima eleição, quando o assunto é música ostento
certezas claras. Corpo de Baile, o novíssimo CD de Mônica Salmaso, debruçado
sobre parcerias de Guinga e Paulo César Pinheiro, é um disco excepcional. Os
parceiros brigaram feio, e há 20 anos não se falam. Paulo Cesar sequer chama
Guinga pelo nome. Salmaso resgatou antológicas composições da dupla e, de
lambuja, nos apresenta seis canções inéditas.
Se
você não conhece o trabalho da Mônica, mas gosta da MPB que passa ao largo das
Annitas, Telós e Popozudas, esse é “o” disco. Pérola para poucos, parodiando
Wisnik.
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