07
de agosto de 2014 | N° 17883
PAULO
SANT’ANA
A Árvore da
Serra
Jesus
alimentava-se de mel, peixes e pães. Os pães são filhos legítimos do trigo, o
mel é produzido pela abelha, e os peixes são o fruto das águas do mar ou do
rio, ou dos regatos e das lagoas.
Os
vegetarianos, pelo que me consta, foram além de Jesus, não comeram peixes,
embora haja vegetarianos que comam peixes e frutos do mar.
Mas
o que eu queria dizer principalmente é que os vegetarianos são seres bondosos,
puros, e por isso não admitem o sacrifício animal, e ao não comerem carne
querem dizer que não se tornam assim cúmplices do sacrifício animal.
Sabem
os leitores por certo a forma como o gado é abatido para ir ao frigorífico, ao
açougue e para a mesa dos carnívoros?
Pois
o gado é posto num brete, e lá na ponta lhe esperam dezenas de marretadas na
cabeça até que ele morra.
Só
essa imagem já é suficiente para que cada vez haja mais vegetarianos na face da
terra.
É
uma colossal judiaria.
Ocorre-me
agora a forma doméstica com que há milhões de anos se mata a galinha.
Torce-se
o pescoço da ave, e ela fica estremunhando durante minutos, agitando-se.
Experimente
degolar a galinha com uma faca, ela vai ficar só com a cabeça parada e o corpo
se agitando, certamente num sofrimento atroz, durante a eternidade de cinco
minutos, assim como uma minhoca que é cortada pela metade mas suas duas metades
continuarão se movendo, creio que por horas.
Os
vegetarianos portanto são filhos de uma crença: a de que não se pode provocar
sofrimento em nenhum ser vivo.
Só
existe uma oposição à ideia vegetariana de que os vegetais não têm alma, ela
foi expressada no soneto célebre de Augusto dos Anjos, que passo a transcrever
a seguir.
– As
árvores, meu filho, não têm alma
E
esta árvore me serve de empecilho.
É
preciso cortá-la, pois, meu filho
Para
que eu tenha um velhice calma.
–
Meu pai, por que tua ira não se acalma?
Não
vês que em tudo existe o mesmo brilho?
Deus
pôs alma nos cedros, nos junquilhos
E
esta árvore, pai, possui minh’alma.
Disse
e ajoelhou-se numa rogativa:
“Não
mate a árvore, pai, para que eu viva!”.
E
quando a árvore, olhando a pátria serra,
Caiu
aos golpes do machado bronco,
O
moço triste se abraçou com o tronco
E nunca
mais se levantou da terra.
Belíssimo,
fulgurante soneto que decorei quando eu tinha 14 anos.
Augusto
dos Anjos, pois, ao contrário dos vegetarianos, acreditava que os vegetais
possuíam alma.
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