terça-feira, 1 de abril de 2014


01 de abril de 2014 | N° 17750
DAVID COIMBRA

Existem protozoários malditos, existem bactérias sórdidas e vírus assassinos. Existem balantidioses, giardíases, leishmanioses tegumentares e linfogranulonas. Existem coqueluches, difterias e tracomas. Existem moscas tsé tsé que causam a doença do sono, baratas rastejantes, ratazanas de esgoto, infinitos mosquitos e também bandidos à espreita debaixo de semáforos e nas portas dos bancos.

Existem pessoas que derramam cal no leite, pais que espancam menininhos, tios que abusam de sobrinhas, mães que fogem com o personal trainer e irmãos que roubam irmãos. Existem também diarreias, apneias, gonorreias e, para ficar na rima, Coreias como a do Norte, com pequenos ditadores que obrigam todos os homens a usar o mesmo corte de cabelo que ele usa, oh, que vida tão igual deve ser essa que se vive na Coreia do Norte.

Existe tudo isso, e o que o ser humano faz a respeito?

Tenta encontrar um sentido.

Essa é a reação do ser humano diante do Mal. A busca de um sentido. É comovente. As coisas ruins acontecem, e as pessoas se debatem para achar a lógica consoladora, para ver ali um merecimento ou uma culpa. E quando nem isso é possível, quando nem toda a razão explica o infortúnio, elas se conformam com o transcendental, com os Desígnios Insondáveis do Criador, com o Destino.

É muito humano isso, e muito belo. Mas nem sempre é real. Às vezes, as coisas ruins acontecem... simplesmente porque acontecem. E mesmo os seus erros, que eventualmente geram consequências nefastas e fazem-no se arrepender, nem os seus erros têm sempre serventia. Quer dizer: você pode não aprender nada com seus erros, pode até desaprender com as consequências deles e, o pior, em alguns casos, mesmo que você aprenda e evolua, mesmo que isso ocorra, não valeu a pena. O melhor seria não ter aprendido nada e não ter errado.

Mas não se desespere. Às vezes o Mal tem um sentido, às vezes o erro tem compensação. Às vezes você pode até antecipar e, assim, evitar o Mal, se ele for causado por um erro. Basta que você seja atento. Basta que você veja os sinais. E não estou me referindo a nenhum sinal sobrenatural, estou me referindo aos avisos emitidos por sua própria inteligência. Ou que deveriam ser emitidos por sua própria inteligência, quando você comete um erro.

Para trazer a conversa aqui para o rés do chão, que é onde nós estamos, vou usar o Gre-Nal como ilustração. No meio da semana, o Grêmio fez um jogo de erros contra o Brasil. Que foram os seguintes: perdeu o ímpeto depois de marcar o segundo gol e, ao perder o ímpeto, perdeu o controle do jogo; finalmente, sofreu um gol de cabeça, com o centroavante livre de marcação quase na pequena área. No Gre-Nal, o Grêmio repetiu os erros: arrefeceu depois de fazer um gol, mudou de comportamento e de ambição; e levou dois gols de cabeça com o centroavante livre de marcação quase na pequena área. O Grêmio foi punido porque seu técnico não viu os sinais.


Abel os viu. Em meio ao jogo, colocou Alan Patrick no time. Agora, já disse que vai mantê-lo. Abel aprendeu. Teve a humildade de aprender e mudar. Essa, aliás, é a maior qualidade de Abel: a humildade em reconhecer suas falhas. Mais fácil de lutar contra o Mal. Quando é possível lutar contra o Mal.

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