ELIANE
CANTANHÊDE
Quando a verdade
doía
BRASÍLIA
- Nada como um dia após o outro para impor os fatos sobre as versões e mostrar
quem é quem.
Ministro
da Fazenda de Itamar Franco, duas décadas atrás, o embaixador Rubens Ricupero
foi derrubado pelo PT por uma conversa informal com um jornalista em que ele
dizia poucas e boas verdades, dessas que políticos não falam.
Naqueles
tempos, antes da massificação da internet e dos celulares, a conversa foi
captada por antena parabólica. Acabou na campanha do PT e transformada em
escândalo. Itamar não resistiu à pressão petista e Ricupero caiu por uma
bobagem.
O
que ele falou de tão grave? Foi mais ou menos assim: "O que é bom a gente
mostra, o que é ruim a gente esconde". Pura verdade, válida para todos os
governos de antes e de depois. Atire a primeira pedra o presidente --ou
"presidenta"-- que nunca seguiu essa cartilha.
Vejamos
com Dilma: a maquiagem dos dados fiscais; a propaganda dos juros baixos e o
silêncio nos juros altos; a badalação eleitoral do PAC e o atual esquecimento;
os holofotes sobre os bons índices de emprego e a suspensão da Pnad Contínua...
Tudo isso é o quê? A máxima de Ricupero.
Já
que falamos da Pnad Contínua, que mexeu com os brios do IBGE, uma das mais
respeitadas instituições brasileiras, aqui vai uma sugestão: ouvir a fala de
Ricupero que lhe custou um dos cargos mais importantes da República em 1994.
Tem cópia no YouTube.
Ele
citou, por exemplo, a suspeita de que o IBGE estava virando um "covil do
PT". Lembre-se de que o PT recusou apoio a Itamar --que encarnou
consensualmente a transição pós-Collor. Luiza Erundina, um dos ícones éticos do
país, rebelou-se, aliou-se a Itamar e foi praticamente banida. Soa
inacreditável.
Se
na oposição o PT já estava infiltrado nas instituições, imagine-se como ficou
ao chegar ao poder...
P.S.:
Gabriel García Márquez, esse, sim, é verdadeiramente imortal.
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