domingo, 20 de abril de 2014

ELIANE CANTANHÊDE

Quando a verdade doía

BRASÍLIA - Nada como um dia após o outro para impor os fatos sobre as versões e mostrar quem é quem.

Ministro da Fazenda de Itamar Franco, duas décadas atrás, o embaixador Rubens Ricupero foi derrubado pelo PT por uma conversa informal com um jornalista em que ele dizia poucas e boas verdades, dessas que políticos não falam.

Naqueles tempos, antes da massificação da internet e dos celulares, a conversa foi captada por antena parabólica. Acabou na campanha do PT e transformada em escândalo. Itamar não resistiu à pressão petista e Ricupero caiu por uma bobagem.

O que ele falou de tão grave? Foi mais ou menos assim: "O que é bom a gente mostra, o que é ruim a gente esconde". Pura verdade, válida para todos os governos de antes e de depois. Atire a primeira pedra o presidente --ou "presidenta"-- que nunca seguiu essa cartilha.

Vejamos com Dilma: a maquiagem dos dados fiscais; a propaganda dos juros baixos e o silêncio nos juros altos; a badalação eleitoral do PAC e o atual esquecimento; os holofotes sobre os bons índices de emprego e a suspensão da Pnad Contínua... Tudo isso é o quê? A máxima de Ricupero.

Já que falamos da Pnad Contínua, que mexeu com os brios do IBGE, uma das mais respeitadas instituições brasileiras, aqui vai uma sugestão: ouvir a fala de Ricupero que lhe custou um dos cargos mais importantes da República em 1994. Tem cópia no YouTube.

Ele citou, por exemplo, a suspeita de que o IBGE estava virando um "covil do PT". Lembre-se de que o PT recusou apoio a Itamar --que encarnou consensualmente a transição pós-Collor. Luiza Erundina, um dos ícones éticos do país, rebelou-se, aliou-se a Itamar e foi praticamente banida. Soa inacreditável.

Se na oposição o PT já estava infiltrado nas instituições, imagine-se como ficou ao chegar ao poder...


P.S.: Gabriel García Márquez, esse, sim, é verdadeiramente imortal.

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