ELIO
GASPARI
Planos de saúde recebem, mas não
pagam
A
Câmara aprovou a anistia dos delinquentes, à custa da Viúva e de quem busca os
serviços das operadoras
Articula-se
no Congresso uma CPI para a Petrobras. Pode ser boa ideia, mas seria bom se
alguém pudesse criar a CPI do Congresso. Na terça-feira passada, a Câmara
aprovou a medida provisória 627, que trata da tributação de empresas
brasileiras no exterior. Como é praxe, seu texto foi enxertado por 523
contrabandos. Entre eles, um artigo concedeu anistia parcial aos planos de
saúde que não cumprem os contratos, apesar de embolsarem as mensalidades das
vítimas. O truque é simples. Há multas que vão de R$ 5 mil a R$ 1 milhão. Como
nas infrações de trânsito, cada multa é uma multa.
Até
o dia 31 de dezembro deste ano eleitoral, em que o Senado poderá ratificar a
maluquice e a doutora Dilma poderá sancioná-la, as empresas terão a seguinte
pista livre: a empresa que tomou de duas a 50 multas da mesma natureza pagará
apenas duas; de 50 a
100, mais duas; acima de mil, 20. Assim, quem foi multado cem vezes, pagará
quatro penalidades. Em números: uma multa por negativa de procedimento custa R$
80 mil. Quem delinquir cem vezes, paga R$ 8 milhões, mas, com a mudança, pagará
R$ 320 mil.
Os
defensores do truque deveriam contar porque não aplicam a mesma tabelinha aos
clientes que deixarem de pagar as mensalidades estabelecidas nos contratos.
Caloteou 50 pagamentos, paga dois.
A
maracutaia estimula a delinquência, penaliza quem não delinque e favorece
poderosos delinquentes, quase todos grandes financiadores de campanhas. (Entre
2006 e 2012, elas cresceram 37,2%, para pelo menos R$ 8,6 milhões.)
Se
tudo isso fosse pouco, a doutora Dilma indicou para uma diretoria da Agência
Nacional de Saúde o doutor José Carlos Abrahão. Ele é um sincero adversário das
normas legais que obrigam as operadoras a ressarcir o SUS quando seus clientes
são atendidos pela rede pública. Pelo cheiro da brilhantina, se algum dia
vierem a cobrá-la por essa indicação, poderá dizer que se baseou em
"informações incompletas" ou num parecer "técnica e
juridicamente falho", como no caso da refinaria de Pasadena.
-
EREMILDO,
O IDIOTA
Eremildo
é um idiota e soube que a Vale arrisca tomar um tombo de US$ 507 milhões na
Guiné. Em 2010, ela comprou a um empresário israelense parte da concessão da
grande jazida de minério de ferro de Simandou. Mudou o presidente, e seu
sucessor resolveu reexaminar a maneira como a concessão foi vendida e ameaça
cancelá-la.
Mesmo
sendo idiota, Eremildo não consegue entender o que há na cabeça de sábios
brasileiros que se metem em negócios com sobas africanos. O cretino sabe que a
Guiné Equatorial nada tem a ver com a outra Guiné, mas convenceu-se de que Lula
foi lá em 2011, para representar a doutora Dilma num encontro da União
Africana, em busca de encrencas. Nosso Guia viajou num avião da Odebrecht e
incluiu um diretor da empresa na sua comitiva.
A
Guiné Equatorial é um pequeno país de 700 mil habitantes que flutua sobre
petróleo. Tem a maior renda per capita da África, mas os nativos vivem na
miséria (70% da população com menos de dois dólares por dia). Já o clã dos
Obiang, que governa a terra desde 1979, vai bem, obrigado. Um deles tem um
apartamento de US$ 15 milhões em São Paulo e outro negociou a compra de um
triplex de US$ 10 milhões na avenida Vieira Souto. Quando Lula foi ver Obiang,
o embaixador Celso Amorim disse que "negócios são negócios". Resta
saber quais eram os negócios.
A
empresa holandesa SBM, locadora de plataformas de petróleo, acaba de informar
que pagou US$ 18,8 milhões em propinas na Guiné Equatorial. Se esse dinheiro
fosse para o povo, renderia 26 dólares para cada um. Para o Fundo Obiang,
renderia mais um apartamento.
-
ISONOMIA
Ameaçando
criar a CPI do Fim dos Mundo 2.0, o PT não conseguirá limpar uma só nódoa nos
negócios da Petrobras. Apesar disso, demonstrou que o tucanato está disposto a
qualquer coisa para não mexer com o cartel da Alstom.
Estão
nessa desde 1995, quando o patrono da empresa organizou uma revoada de notáveis
para assistir à posse de Bill Clinton. O pior é que a turma dizia que foi
convidada pelo governo americano, quando se sabe que a posse de presidentes em
Washington é um evento doméstico.
LOROTA
Sabendo-se
que é falsa a informação do ex-diretor Nestor Cerveró, segundo a qual os
conselheiros da Petrobras receberam o contrato de compra da refinaria de
Pasadena com 15 dias de antecedência, fica uma pergunta: qual é a linha que
separa a verdade das lorotas dos petrocomissários?
MADAME
NATASHA
Madame
Natasha zela pela malha do idioma e concedeu mais uma de suas bolsas de estudo
aos sábios que redigiram o Plano Diretor Estratégico da Prefeitura de São Paulo
pelo parágrafo único do seu artigo 178, que diz o seguinte:
"A
Zona Rural do Município de São Paulo é multissetorial e multifuncional,
comportando a diversidade de atividades integrantes das cadeias produtivas da
agricultura e do turismo, incluindo infraestrutura e serviços a elas
associados, e exercendo as funções de produção, inclusão social, prestação de
serviços e conservação ambiental características da ruralidade
contemporânea".
-
PAGAR
IMPOSTO É COISA DE OTÁRIO
Pela
ordem social do andar de cima, há no país os cavalgados e os cavalcantis. Os
cavalgados compram suas coisas e pagam todos os impostos no caixa. Trabalham o
mês todo e, quando recebem o contracheque, ele vem com a mordida do Imposto de
Renda.
Os
cavalcantis não pagam o que a Receita cobra e, uma vez autuados, esperam que o
governo lhes ofereça um plano de refinanciamento do débito. Os descontos são
tamanhos que não pagar torna-se bom negócio. O truque atende pelo nome de Refis
e, num acordo do governo com a oposição (em ano eleitoral), a Câmara dos
Deputados, numa medida provisória relatada pelo deputado Eduardo Cunha, acaba
de patrocinar mais uma festinha. É o Refis 8.0. Resta saber se a doutora Dilma
vai sancioná-la.
O
Refis socorre sonegadores desde 1999. Por meio de engenhosos mecanismos,
tornou-se um benefício contínuo. Houve empresa com a dívida parcelada por 1.066
anos. Outra, que devia R$ 128 milhões, passou a pagar R$ 12 por mês. Bancos e
multinacionais já refinanciaram R$ 680 bilhões. A Vale parcelou uma cobrança de
R$ 45 bilhões com 50% de desconto. A Companhia Siderúrgica Nacional safou-se de
uma dívida de R$ 5 bilhões. A Braskem podou um espeto de R$ 1,9 bilhão.
Em 2009, a secretária da Receita, Lina
Vieira, disse que, com esse gatilho, "o bom contribuinte se sente um
otário". Ela foi demitida pouco depois pelo ministro Guido Mantega.
Sempre
que o governo maquia o Refis vem o argumento de que com ele arrecada-se cerca
de 15% do que está emperrado. É verdade, mas deixa-se de receber o que se
cobrou aos cavalcantis, o que nunca acontece com os cavalgados.
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