sábado, 26 de abril de 2014


26 de abril de 2014 | N° 17775
PAULO SANT’ANA

Enterrado morto

Escrevi uma carta a meu amigo Júlio Santines, atualmente residente em Nova York.

Eis a carta: “Olá, como vais? Por aqui tudo na mais santa normalidade: há tumultos nas ruas, aumento de impostos. Como tu sabes, haverá transição sem transição no governo. Dilma, portanto, permanece e Lula continua mandando por trás do pano.

O caso mais polêmico aqui no RS, com intensa repercussão no Brasil, é o do assassinato do menino Bernardo Boldrini, de 11 anos, pelo qual estão presos sua madrasta, uma amiga dela e o pai do garoto.

Foi um assassinato cruel. Supúnhamos que o menino tivesse sido enterrado vivo, mas o exame do IML, incrivelmente feito às pressas na pilha de exames que esperam por solução, atestou ontem que o menino foi enterrado morto. Pelo menos de mais esse sofrimento brutal se livrou.

O Rio Grande do Sul agradece às duas assassinas por terem enterrado o menino morto.

Continua a carta: “Amigo Júlio, sofremos aqui o maior tarifaço da história da República. Nossas contas de luz tiveram aumento de cerca de 30%, de uma só tacada, ninguém até hoje no governo explicou a causa dessa exploração. Incrivelmente, mesmo com esse tarifaço, os índices de inflação que o governo divulga continuam inalterados, de onde se deduz que esses índices, como sempre aconteceu em todos esses anos, é frio, tanto que a inflação é de 6% ao ano e a conta da energia elétrica é 30% mais cara, por óbvio.

Aumentos de salário, amigo, nada, a não ser para os príncipes da República, que veem seus salários reajustados muito acima da inflação ano a ano.

Vem aí a Copa do Mundo, que está custando aos cofres públicos centenas de bilhões de reais, enquanto sofrem e morrem os pacientes nas filas de cirurgia e consultas do SUS. Não se entende como é que vão fazer uma Copa do Mundo que podia ser realizada em países que já têm os estádios concluídos. Era só um deles sediar a Copa e ficaríamos livres dessa quantia bilionária que o governo está gastando com os estádios, podendo então ser desviada para a saúde essa verba bilionária e desnecessária. E se fosse realizada a Copa em qualquer outro país, iríamos vê-la inteirinha pela televisão. Eu não entendo essa estupidez monumental.


Amigo, tudo vai sendo levado normalmente por aqui. Os bombeiros continuam desaparelhados e só por graça de Deus não têm acontecido tragédias em incêndios que fatalmente irão ocorrer. Não temos caminhões de bombeiros e mangueiras, mas temos Copa do Mundo, que engana a todos os que pensam que assim são felizes, atolados até o pescoço na desventura. Mando-te os abraços costumeiros e peço que respondas a esta antes ainda da Copa”.

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