Jaime
Cimenti
O thriller sexual de Tailor
Diniz
Em
linha reta, romance de temática policial-sexual, é o 13º livro do consagrado
autor gaúcho Tailor Diniz, jornalista, escritor e roteirista de cinema e TV
que, entre outros, publicou volume de contos Tranversais do tempo (Bertrand
Brasil, Prêmio Açorianos 2007 e Prêmio Ages) e A superfície da sombra, romance
lançado pela Grua Livros em 2012, com adaptação para o cinema. Tailor tem muita
experiência com literatura policial e seu romance Crime na Feira do Livro,
publicado pela Dublinense, foi finalista do Prêmio Açorianos de Literatura em
2011 e traduzido para o alemão.
Em
linha reta (Grua Livros, 128 páginas), já nas primeiras linhas, envolve o
leitor com sua linguagem ágil e direta, numa cena forte. Sophia Antonelli, uma
universitária garota de programa, contratada por um cliente desconhecido, é
levada por um motorista tosco, falante e agressivo que, ao som de músicas
antigas de Roberto Carlos, vai garganteando muito sobre vida, prostituição e a
estranha receita de peixe que come o recheio antes de ser abatido a marteladas
e ir ao forno. Os diálogos são primorosos, verdadeiros e agressivos, como
poucos na literatura brasileira e na de outros países.
O
motorista segue por uma estrada gaúcha, retilínea e deserta, noite adentro. Ao
serem abordados por policiais, na estrada, o motorista simplesmente diz que
está a serviço do Sacerdote. Os agentes da lei batem continência, perguntam se
ele vai bem e mandam seguir. Adiante, na tentativa de se evadir da situação,
Sophia acaba se enredando de vez numa teia de perversões.
O
thriller sexual de Tailor, pelos cenários, personagens e temática, se insere no
melhor da tradição literária latino-americana, da qual o autor é parte e
profundo conhecedor. Entre a realidade e o delírio, entre o sonho e a
alucinação, Sophia vai vivenciando, em poucas horas, em ritmo acelerado,
acontecimentos ligados com religião, sexo, sadismo, suicídios, fuzilamentos e
ambientes perdidos no tempo e no espaço. Mas a prosa enxuta e experiente de
Tailor não cai simplesmente nas famosas hipérboles e facilidades do fantástico
e leva o leitor a outros caminhos.
Caminhos
das profundezas e labirintos da alma humana, dos desejos dos seres e dos
maquinismos sociais e pulsões que acabam por escravizar as pessoas. Em linha
reta vai além de um romance policial bem construído. Além do que existe entre o
céu e a terra.
Bem
como diz Jorge Luis Borges na epígrafe: “os sonhos são uma obra estética,
talvez a expressão estética mais antiga. Toma uma forma estranhamente
dramática, já que somos, como disse Addison, o teatro, o espectador, os atores
e a fábula.” Por aí.
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