terça-feira, 1 de abril de 2014


01 de abril de 2014 | N° 17750
LUIZ PAULO VASCONCELLOS

O deus do teatro

As festividades que deram início ao teatro na Grécia Antiga eram realizadas em honra a Dionisos, o deus do vinho, o espírito selvagem do contraste, da contradição, da bem-aventurança e do horror.

Dionisos era filho de Zeus com uma mortal, Sêmele. Levada pelo ciúme, Hera, a esposa de Zeus, sugere a Sêmele que peça ao deus que se mostre a ela em todo seu esplendor. Embora relutante, Zeus, para satisfazê-la, concorda em aparecer na forma divina e, quando o faz, Sêmele é imediatamente consumida pelas chamas provocadas pela intensidade da luz. O feto, porém, que estava no seu útero, é protegido por uma rede de folhas de parreira surgidas do solo no momento mesmo do aborto. Zeus, reconhecendo o caráter milagroso do acontecimento, recolhe o feto e o deposita na barriga de sua perna, onde, então, é gerado. Assim, Dionisos torna-se o único ser com um duplo nascimento – da mãe e do pai.

Para fugir da ira de Hera, a esposa de Zeus, Dionisos é criado longe da Grécia, em algum lugar da Ásia. E, para que não fosse reconhecido, fazem-no usar roupas femininas.

Quando cresce, Dionisos descobre a uva e aprende a fazer o vinho. Bebendo sem moderação, fica “doente”, mas amanhece curado, o que permite que o vinho seja novamente tomado e novamente a doença se manifeste, mas é novamente curado e assim indefinidamente, através dos séculos, aliás, até hoje.

Dionisos e seu séquito vagam pelo Egito, pela Síria e pela Índia até voltarem para a Grécia, quando então são introduzidos os rituais dionisíacos, também chamados de bacanais, festas em que o povo é tomado por um delírio místico, obviamente à custa de algum vinho, percorrendo os campos dançando e cantando, origem do que hoje chamamos de Carnaval. As procissões de Dionisos eram tumultuadas, e nas festas havia representações com máscaras, o que deu origem à tragédia e à comédia gregas.

No plano humano, consta que tudo começou ali pelo século 600 a.C., quando Tespis, o líder de um coro rural, saltou sobre o banco – saltimbanco, lembram-se do termo? – e referiu-se ao deus que celebravam, não na terceira pessoa, como era o costume, mas na primeira pessoa – “Eu sou o deus tal e fiz isso e aquilo...” – e o coro respondeu estabelecendo-se, assim, o diálogo, elemento fundamental para a narrativa dramática.


Teatro é isso! Contraste, conflito, confronto, festa, máscara, delírio, raciocínio, opinião, dúvida e certeza. Salve o 27 de março.

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