Jaime
Cimenti
História, estórias, memórias, memórias
inventadas, romances
Há quem
diga, brincando ou falando sério: “História é uma coisa que não aconteceu,
contada por um cara que não estava lá”. Muitas pessoas, antes de ler livros de
História, resolvem investigar a verdade ou as verdades sobre e do historiador
ou sobre a entidade que organizou a publicação.
Os
requintados e exigentes leitores dos complexos dias pós-modernos que voam por aí
não deixam por menos. Já saem perguntando se o autor é revisionista,
diversionista, de direita, esquerda, centro, centro-direita ou centro-esquerda,
seja lá o que signifique cada classificação e se é que ainda existem classificações
válidas por mais de um mês. Alguns historiadores e leitores são mais papeleiros,
gostam mais de fontes primárias, documentos e tal, mesmo sabendo que fontes
primárias também estão sujeitas a falsificações, chuvas, trovoadas e interpretações.
Existem
os que não abrem mão de oralidade, fonte secundárias e terciárias, mesmo sendo
estas últimas problemáticas. E dê-lhe história contada pelos vencedores, pelos
vencidos, Grande História, pequena História, história da vida privada, da vida
pública, história da História, história dos anônimos minoritários etc. Complicado,
não? Não está fácil escrever ou saber sobre o passado. Nunca foi. Heródoto, o
pai da História, da velha Grécia de séculos antes de Cristo, teve sua obra
acusada de plagiaria, influenciável e imprecisa. No Brasil, então, como disse o
outro, até o passado é imprevisível. Mas não podemos desanimar.
Temos
de ler, reler, tresler, cotejar, comparar e manter nosso senso crítico livre,
individual e criativo, mesmo que a pretensão e vaidade às vezes tomem conta da
gente e nos botem a falar bonito e empolado demais nos botecos, restaurantes,
festas, salões, academias e esquinas da vida. Cada um conta sua História e suas
histórias. Memória é onde as coisas acontecem muitas vezes. Memórias inventadas
estão na moda, mesclando verdades, mentiras, fatos, invenções, pessoas reais ou
imaginárias e/ou pessoas reais com toques imaginários e o que mais o autor
quiser. Há milênios estamos tentando saber o que é a verdade.
Por
essas e por outras muitos estão preferindo biografias romanceadas, romances
históricos ou com fundo histórico, em que, ao menos, sabem antes que vão
encontrar apreciáveis doses de fantasia, invenções, ideologias e até diversão. Mas
vamos adiante, a História, as histórias, as biografias, os romances e os shows
de todos os artistas têm de continuar. Desde o tempo das fogueiras nós,
humanos, não vivemos sem escrever, ouvir e contar histórias e Histórias.
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