RUTH
DE AQUINO
11/04/2014
20h38
Quem paga o pato é você
Lula
fala como se não fosse em nada responsável por tudo o que está aí. E a maioria
ainda acredita nele
O
maior líder da oposição atualmente, que cobra mais medidas concretas da
presidente Dilma Rousseff, que mais reclama do estado preocupante da economia
brasileira, que ganha mais manchetes, que mais mexe com o mercado quando abre o
verbo, e que mais tem condições de ganhar a eleição, todo mundo sabe, é Lula, o
criador da criatura.
Lula
sempre soube que não entende nada de economia. Mas entende de povo. Sabe que os
brasileiros estão pessimistas e irritados com a inflação sentida no mercado e
na feira. O tal “teto da meta” já foi estourado há muito tempo no dia a dia, e
isso é fatal para uma líder sem carisma. As greves começarão a pipocar, para o
povo recuperar o poder aquisitivo. Lula não gosta nadinha do que vê. Você pode
chamá-lo do que quiser, menos de bobo.
Em
sua entrevista a blogueiros, com repercussão na imprensa que ele ataca, Lula
foi direto na jugular da companheira. “Poderíamos estar melhor, e a Dilma terá de
dizer isso na campanha claramente: como a gente vai melhorar a economia
brasileira.” Lula fala como se não fosse em nada responsável por tudo o que está
aí. E a grande maioria dos eleitores acredita nele.
Se
será ou não candidato, é outro papo. Lula interveio agora na Presidência de
maneira mais bruta que o Comitê Olímpico Internacional interveio na Olimpíada
do Rio. É o mesmo raciocínio. Quando um projeto corre o risco de desandar,
entra no ringue o mais forte para evitar danos futuros. O projeto Dilma soçobra
como os Jogos no Rio. Falta credibilidade a ambos.
Lula
não quer ninguém atrapalhando o PT. Nem a pupila Dilma, nem o ex-vice-presidente
da Câmara, André Vargas, hoje um náufrago abandonado à própria sorte. “No final”,
disse Lula, “quem paga o pato (da amizade de Vargas com o doleiro preso Alberto
Youssef) é o PT.”
Quem
paga hoje o pato não é o PT, mas o cidadão brasileiro. Paga o pato, a galinha,
os ovos, o tomate. Paga mais do que dizem os índices oficiais de inflação. Paga
o pato do despreparo e do oba-oba da equipe econômica, que deitou no sofá do
Planalto em tempos fáceis e agora não consegue nem maquiar a economia real. Adiam-se
aumentos nas contas de luz e de gasolina, e ninguém acredita mais em meta
nenhuma.
Na
corrida contra o tempo e contra o descrédito, até a eleição, Dilma tropeça em
si mesma, se encolhe, não pode aparecer em público porque será vaiada, torce
para a Seleção ganhar a Copa e tem de engolir as broncas públicas de Lula. “Minha
candidata é a Dilma”, repete Lula. Mas ele só alimenta o que chama de “boataria”,
quando se diz insatisfeito com os rumos da economia no Brasil.
“O
problema maior foi deixar a inflação bater no topo da meta”, diz o economista
Edmar Bacha, um dos pais do Plano Real e ex-presidente do BNDES e do IBGE. “Estavam
brincando com fogo e estão colhendo o que semearam.” Está claro, segundo Bacha,
que a taxa de inflação real é maior que os 6,15% anuais. “Essa taxa,
parcialmente oculta pelo controle dos preços administrados, contamina muito a
própria ordem social.” Bacha não se assusta com as greves nem crê na
argentinização do Brasil. “Não é o fim do mundo. Quem está parando é gente com
poder de barganha, operários envolvidos em obras estratégicas.”
No
Leblon, bairro nobre do Rio de Janeiro, funcionários em greve das obras de
expansão do metrô irromperam com paus e pedras na esquina de minha rua. Estavam
furiosos com os colegas que furavam a paralisação e insistiam em trabalhar. Os
grevistas exigem pagamento de 100% sobre as horas extras, aumento da cesta básica
de R$ 230 para R$ 300, retroativo a fevereiro, e 10% de aumento nos salários.
É só
conversar com qualquer um na rua, taxista, segurança, lojista, feirante, dona
de casa, que você ouvirá o que as pesquisas detectam: insatisfação, medo e
desconfiança. O Rio teve a inflação mais alta do país, 7,87% em 12 meses. A
alta em alimentos e serviços é muito maior, tanto que a moeda na cidade passou
a ser apelidada de “surreal”. Como a maioria não acredita em “legado social da
Copa”, tornou-se visível uma torcida cada vez mais militante contra o
desempenho da Seleção.
Os
grevistas da linha 4 do metrô carioca reivindicam só 10% de aumento porque não
leem jornal nem revista. Se fossem bem informados, saberiam que o governo
federal aumentou as despesas totais em 15%, só no primeiro bimestre de 2014. A conta de pessoal e encargos
sociais cresceu 13,5% em janeiro e fevereiro.
Péssimo
exemplo! Com as finanças públicas sem controle no Brasil de Lula e Dilma, quem
paga o pato não é o PT, é você. Até rimou.
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