domingo, 27 de abril de 2014

Mauricio Stycer

O futuro ainda não chegou

'SuperStar' comete erros, desperdiça a promessa de interação e perde no Ibope para Silvio Santos

Lançado na segunda quinzena de setembro de 2013 no Canal 2, em Israel, o show de talentos "Rising Star" logo foi visto, por executivos dos principais centros do planeta, como o futuro da televisão.

Ainda com o programa no ar, a empresa criadora do formato, chamada Keshet, deu início à comercialização. Emissoras de países como Inglaterra, Espanha, França e Itália adquiriram os direitos. Em novembro, a gigante americana ABC fez o mesmo, sinalizando para o resto do mundo que se tratava, de fato, de aposta quente.

A Globo se juntou ao grupo, que já soma mais de 20 emissoras, no início de dezembro de 2013. Mas acabou sendo a primeira TV, depois da israelense, a estrear o programa, em abril de 2014.

Nascidos no rádio, shows de talentos existem desde sempre na televisão. A revolução prometida pelo programa "Rising Star", aqui rebatizado como "SuperStar", é o método de votação.

De posse de um "smartphone" ou um "tablet", os espectadores podem baixar um aplicativo que os torna parte do júri do programa. Ao vivo, em tempo real, quem está em casa pode votar, influenciando o resultado da apresentação de cada grupo musical.

A atração que atinge 70% de votos positivos é aprovada. Ao longo dos poucos minutos que dura a apresentação, o espectador vê um termômetro na tela se movendo em função dos votos dados. Quando alcança este patamar, um painel moderno se levanta, revelando finalmente os artistas.

Esta possibilidade de interação oferecida por "Rising Star" é, até agora, a materialização mais bem acabada do sonho que vem sendo enunciado já há alguns anos por analistas e futurólogos que pensam a televisão no mundo digital.

Exibidos os primeiros três episódios de "SuperStar" no Brasil, porém, tudo indica que o futuro ainda não chegou por aqui. A Globo errou a mão no lançamento do programa.

A pressa em estrear foi o primeiro pecado cometido pela emissora. "SuperStar" foi ao ar no dia 5 de abril, destinado a ocupar o vazio na grade deixado pelo "Big Brother Brasil 14". Sem testes suficientes, a grande atração do programa, o aplicativo, falhou na mão de milhares de espectadores, provocando queixas e revolta nas redes sociais.

O segundo erro foi a escolha do trio de jurados famosos. Para um programa que busca se comunicar com os jovens, Fábio Jr., Ivete Sangalo e Dinho Ouro Preto estão longe de representar a melhor opção.

Pior, na interação com a apresentadora, Fernanda Lima, o trio de jurados acabou levando o programa involuntariamente para o caminho da comédia. "Votei 'sim'", espantou-se Fábio Jr. ao saber que o seu painel registrava um "não". "Tenho personalidade zero", reconheceu Ivete Sangalo, justificando por que aprova a grande maioria das atrações musicais.

O terceiro erro, o mais triste, foi acreditar que o público diante da televisão no domingo à noite estaria interessado em uma atração high-tech como "SuperStar". Como já vinha ocorrendo com o "BBB", o novo show de talentos da Globo tem perdido no Ibope para o "Programa Silvio Santos". Esta, sim, é a mensagem que faz pensar.


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