09
de abril de 2014 | N° 17758
ARTIGOS
- Jônatas Marques Caratti*
Por que é chato ir à escola?
No
programa Fantástico do último domingo a série Educação.Doc mostrou como
professores do Rio de Janeiro transformaram a sala de aula num lugar
significativo e interessante. Os educadores foram desafiados a buscar
alternativas, em virtude do alto índice de abandono escolar, resultado da ausência
de relações entre o conhecimento aprendido na sala de aula e o vivido pelo
aluno em seu cotidiano. Mais fantástico seria se experiências como estas
ocorressem no país inteiro, que fossem a regra e não a exceção.
Os
obstáculos enfrentados pela educação no Brasil não são consequência de um único
problema. Mas acredito que um deles esteja na divisão do conhecimento científico
em disciplinas escolares. Isso ocorreu lá pelo final do século 19, quando o país
vivia um tempo de inúmeras mudanças.
Acreditava-se
que a especialização de cada ciência traria mais saber. E isso impediu – desde
aquela época e até os dias de hoje – que a sociedade tivesse uma perspectiva do
todo. É incrível como pouca coisa mudou na educação nos últimos cem anos. Como
já disse certa vez o professor Muniz Sodré: a escola é do século 19, o
professor do século 20 e o estudante do século 21: como isso pode dar certo?
É por
isso que aposto numa educação interdisciplinar. Como o conhecimento e a nossa
própria vida são interdisciplinares por essência – ou seja, não fazemos apenas
uma coisa, mas utilizamos saberes plurais para resolvermos várias questões ao
mesmo tempo –, esta seria a maneira mais coerente de ensinarmos nossos alunos.
Por
que é chato ir à escola? Porque lá o conhecimento está dividido em caixinhas: português,
matemática, ciências, história... As especializações nos fazem perder a
compreensão do todo. Não é por nada que não lidamos bem com mudanças: de
cidade, de casa, de trabalho. Aprendemos a resolver parcialmente os problemas. Por
isso é chato ir à escola. Se a vida é interdisciplinar, a escola deveria ser
também, não é mesmo?
A
escola continuará chata enquanto os professores derem suas aulas com as portas
fechadas. É preciso reciprocidade e objetivos comuns entre os educadores. Trabalhar
de maneira interdisciplinar não é tarefa fácil. Os professores têm muitos
impedimentos: conseguir cursar uma formação continuada de qualidade, receber
salários mais dignos, poder criar novas concepções de tempo e espaço nas
instituições etc. O papel da escola, dos professores e dos alunos precisa ser
repensado.
Se a
sociedade mudou, os professores e as escolas também precisam mudar – e nós,
docentes, estamos esperando que o modo como o Estado tem tratado a educação
também mude! Enquanto a escola for quadrada, ela vai continuar chata. Mas, sim,
a escola pode ser um lugar legal. Eu acredito que as coisas possam mudar. Sei
que ninguém pode transformar a educação sozinho. Portanto, é necessário diálogo,
atitude e muito trabalho de equipe.
*PROFESSOR
UNIVERSITÁRIO E HISTORIADOR
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