07
de abril de 2014 | N° 17756
L. F. VERISSIMO
Lugar ideal
Um
homem resolve fugir da cidade grande em que vive e padece. Bota a família e a
bagagem num carro e ruma para... Para onde? Ele não sabe. Vai para o interior
do país. Depois para o interior do interior do país. A família se impacienta.
Onde ele quer chegar? A cada cidadezinha que passam, a mulher pergunta “é
aqui?” , e o homem diz “não”.
A
cada lugarejo que cruzam, as crianças, esperançosas, perguntam “aqui não
serve?”, e o homem diz “não”. E continua a viagem, rumo ao interior do interior
do interior do país. Até que entram numa cidade minúscula, uma cidade de um
poste só. E o homem declara: “É aqui que nós vamos morar!”
A
família não entende. O que aquela cidade tem de especial? Por que logo ali? E o
homem responde:
–
Vocês não notaram?
– O
quê?
– Os
cachorros correndo atrás do carro! Aqui cachorros ainda correm atrás de carros!
É aqui que nós vamos ficar!
Em
outra versão da mesma história, o homem, à procura de um lugar perfeito para
morar, chega numa cidadezinha no interior do interior do interior do interior
do país, entra no único bar da cidade e pede:
–
Uma Coca-Cola, por favor.
E o
dono do bar pergunta:
–
Uma o quê?
– É
AQUI! – grita o homem.
(Na
verdade, como adepto da Coca Diet, meu ideal não seria o mesmo do nosso
hipotético buscador. Mas entendo a sua alegria).
Numa
lista recém-publicada de países ideais para se viver, o primeiro lugar foi para
a Nova Zelândia, seguida da Suíça, da Islândia e da Holanda. Neozelandeses,
suíços, islândicos (?) e holandeses morariam nos melhores lugares do mundo,
julgados, eu suponho, pelo parâmetro, algo impreciso, da “qualidade de vida”.
Imagino que não entre na cotação o grau de chateação cotidiana nestes paraísos,
o que desclassificaria pelo menos três dos quatro.
Só
se salvaria a Holanda, onde a tolerância com o comportamento individual dos
cidadãos em matéria de sexo e drogas é, no mínimo, uma garantia contra o tédio.
Pois deveria contar pontos na avaliação dos lugares ideais para se viver o
quesito “o que fazer nos sábados à noite”.
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