22
de abril de 2014 | N° 17771
DAVID
COIMBRA
O mar grande e o mundo
pequeno
O
mar é tão grande... e o mundo é tão pequeno.
É
com essa verdade que quero mostrar aos gremistas como eles podem fazer com que
o Grêmio se torne de novo vencedor.
Basta
que entendam as grandezas de sua realidade. Talvez seja melhor exemplificar com
grandezas externas. Vamos ver... na política: Lula é maior do que o PT e Brizola
muito, muito maior do que o PDT. Na História: Alexandre foi maior do que a
Macedônia e Gengis Khan bem maior do que a Mongólia. No futebol: Pelé é maior
do que o Santos, mas Zico não é maior do que o Flamengo e Garrincha é do mesmo
tamanho que o Botafogo.
Desaguando
aqui, nesses meridianos, olhe para a dupla Gre-Nal: a dupla Gre-Nal é maior do
que Porto Alegre e os presidentes de Grêmio e Inter, juntos, são maiores do que
o governador do Estado. Já o clássico Gre-Nal, para gremistas e colorados, é maior
do que o futebol. Na verdade, o futebol é um esporte subalterno, diante da
imponência do clássico Gre-Nal.
Há
gremistas e colorados que não entendem isso. Normal. A maioria das pessoas não
compreende sua própria essência, donde a bem-aventurança de psiquiatras,
psicanalistas e sacerdotes. Pois a essência de Grêmio e Inter é esta: o Gre-Nal
é maior do que o futebol. Eles vivem para o Gre-Nal, vivem um para o outro. Não
há nada mais importante, para um colorado, do que o Grêmio; não há nada mais
importante, para um gremista, do que o Inter.
O
Inter compreendeu isso antes do Grêmio por uma razão óbvia: o Inter nasceu
dessa verdade. O primeiro jogo da história do Inter foi o Gre-Nal perdido de
zero a dez. Essa derrota condicionou o destino do clube, como um trauma na
primeira infância condiciona o destino do homem – para o bem ou para o mal. No
caso do Inter, para o bem.
O
Grêmio ainda hoje se repoltreia na ilusão de que existe algo maior do que o
Gre-Nal, e por isso volta e meia vacila. Sábio era o Cacalo que, lá do Japão,
disputando o Mundial Interclubes, lembrou-se do Inter, então quietinho,
amofinado e encolhido como um caramujo à beira do Rio Guaíba.
Fernando
Carvalho é um dirigente moderno que viu essa verdade antiga. Entendeu que o
Inter só seria grande de novo depois de suplantar o Grêmio de novo. Mirou-se na
grandeza do Grêmio e, pela grandeza do Grêmio, o superou. Fernando Carvalho
sabia que tinha de começar ganhando Gre-Nal, para depois ganhar o mundo.
Rui
Costa, do Grêmio, é um dirigente que demonstra ter o potencial para ser o que
foram esses dois, Cacalo e Fernando Carvalho. É inteligente, é civilizado e
conhece o futebol. Agora, desfruta de uma oportunidade luzidia: de, mais do que
conhecer futebol, conhecer tudo sobre o Gre-Nal; de aprender, com a dor, o
quanto um Gre-Nal pode construir ou destruir.
Mas
não adianta só derrotar o adversário. Uma eventual vitória não é o suficiente.
Nem algumas eventuais vitórias são suficientes. É preciso saber-se superior até
quando se é derrotado. É preciso olhar o inimigo de cima e cuidar para que ele
continue embaixo. No momento em que um dos dois, Grêmio ou Inter, está nessa
situação, preparem-se, clubes do mundo inteiro, um colosso está subindo do Sul
do Brasil.
Por
isso, o Gre-Nal é a medida de quem deve ou não militar em Grêmio e Inter. O
Gre-Nal é a medida de como devem se comportar Grêmio e Inter. É o seu farol. A
sua luz. O Grêmio quer voltar a ser vencedor? Precisa entender suas grandezas.
Precisa entender que o Gre-Nal é maior do que o futebol. Assim como o mar é tão
grande, e o mundo tão pequeno.
Regra
pétrea
Fosse
eu dirigente de uma das metades da Dupla, criaria uma regra para meu time:
1.
Teve bom sucesso em Gre-Nal? Fica.
2.
Fracassou rotundamente em Gre-Nal? Vá ser feliz em outro lugar.
Vou
tomar um exemplo controverso, porque, se não for controverso, não há sentido em
citá-lo, não vou ficar remanchando no óbvio. Pois aí vai meu exemplo
controverso: Kléber, o Gladiador, é bastante contestado no Grêmio. Mas Kléber
sempre se saiu bem em Gre-Nal. Eu não o dispensaria, eu não prescindiria de sua
liderança, nem que ele tivesse de descansar no banco uma hora por jogo.
Outro
exemplo controverso, que talvez um só seja pouco: o zagueiro Saimon, que anulou
Damião em sua melhor fase. Tem lá seus problemas, parece. Eu os administraria.
Não prescindiria de seu aguerrimento de torcedor e da energia da sua juventude.
Por
que ficaria com os dois? Por causa do Gre-Nal. A medida é o Gre-Nal.
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