06
de abril de 2014 | N° 17755
MARIO
CORSO | MARIO CORSO (interino)
Ações do Forte
Apache
Eu
entendo o Eike Batista, sei do seu sofrimento. Como ele, já fui muito rico e
perdi propriedades. Era negócio de família, eu e meu irmão. Possuíamos um Forte
Apache, uma tribo de uma nação indígena (Sioux), uma granja e uma pequena vila.
Vocês não imaginam o que dava de trabalho para gerenciar essa gente toda.
Tínhamos ainda um conflito étnico, a maioria dos índios era comprada e
colorida, mas havia os que vinham de brinde nas embalagens de Toddy,
monocromáticos. Houve problemas de aceitação, foi um desafio assimilá-los.
Acrescente a isso o desequilíbrio nas proporções sexuais, praticamente uma
mulher para cem homens. Gastávamos muita energia para deixar essa engrenagem
social funcionando.
Éramos
felizes, afortunados, mas não ricos. Um dia a sorte grande chegou. Um vizinho
arranjou uma namorada e resolveu queimar as pontes com sua infância. Para nosso
benefício fomos brindados com mais um Forte Apache e um novo contingente
indígena (Navajo). Graças a nossa experiência administrativa conseguimos
assentar os novos imigrantes sem aumentar o território. Nossos pais,
insensíveis ao problema, não disponibilizaram um quarto extra.
Dois
fortes e duas nações indígenas multiplicaram os arranjos bélicos. Foram muitos
massacres, mas ao contrário da história, como em nosso quarto tentávamos
equilibrar o mundo, os indígenas levavam a melhor e havia um acordo de poupar
os cavalos. A reconstrução era trabalhosa, mas uma nova configuração política
rebrotava dos escombros.
O
tempo passa e novas ocupações nos tiraram dessa empreitada. Para o bem desse
povo resolvemos passar o domínio a um primo. Inacreditavelmente, sozinho ele
deu conta. Anos depois o conjunto retorna. Minha tia guardou tudo e devolveu
quando minhas filhas eram pequenas. Descobri, com as meninas, que o plástico
tem vida curta. Soldados calejados agora perdiam a perna apenas montando a
cavalo. Sem tiros de canhões, os corpos se despedaçavam, nada parava em pé. Com
tristeza despachamos para reciclagem, mas os soldados e os índios entenderam
que a missão fora cumprida.
Conto
a história com um propósito: façam uma limpeza em suas casas, desentoquem os
velhos brinquedos. A missão de um brinquedo é ser destruído, ele só será feliz
se for usado à exaustão, se uma criança lhe tirar o suco. Infeliz do brinquedo
guardado na caixa original. Lembre-se: pode estar ao seu alcance fazer uma
criança ser milionária.
Fabrício
Carpinejar está em férias e retorna no dia 27 de abril.
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