sábado, 5 de março de 2011



06 de março de 2011 | N° 16631
PAULO SANT’ANA | LUIZ ANTÔNIO ARAÚJO - Interino


A história dos Rousseff

Em uma entrevista concedida seis anos antes de se tornar presidente, Dilma Rousseff disse que seu pai tinha trocado a Bulgária pelo Brasil por motivos políticos. A versão de que Petar Rússev – nome mais tarde aportuguesado para Pedro Rousseff – tinha sido militante comunista foi repetida em perfis e estimulou especulações sobre em que medida o pai teria influenciado a filha. Chega às livrarias este mês um livro que, se não derruba de vez essa tese, pelo menos fornece fortes evidências em sentido contrário.

Chama-se Rousseff – História de uma Família Búlgara Marcada pelo Comunismo, um Abandono e a Presidência do Brasil (Virgiliae, R$ 39,90) e foi escrito a quatro mãos pelos jornalistas Jamil Chade, brasileiro, e Momchil Indjov, búlgaro. Além de lançar novas luzes sobre Petar, o livro contém dezenas de outras informações de primeira mão sobre a história da família da presidente.

Com base em entrevistas com familiares de Petar na Bulgária, inclusive em sua cidade natal, Gabrovo, os autores mostram que, se algum dia teve simpatias esquerdistas, o pai de Dilma não as revelou à família. Escrevem Chade e Indjov: “É de Tzonyu Kornazhev, filho do rico comerciante Zahari, o tio que recebeu Petar em Sófia de braços abertos, uma outra versão: para ele, a verdade é que Petar teria sido ‘simplesmente um aventureiro irresponsável’”.

O único documento escrito conhecido sobre a fuga é uma carta na qual ele agradece ao tio Zahari pela ajuda em Sófia e pede desculpas pelo que fez com seu dinheiro. Petar sumiu em 1929, deixando a mulher, Evdokia Yankova, então grávida, e a família só voltou a ter notícias dele quase duas décadas depois.

Outra passagem marcante do livro trata do filho búlgaro de Petar, Luben-Kamen Rússev. Dezessete anos mais velho que a irmã famosa, Luben soube já adulto que seu pai estava vivo e tentou se encontrar com ele. A burocracia comunista instalada no poder depois da II Guerra Mundial, no entanto, negou-lhe um visto para o Brasil e quase o impediu de ingressar na universidade.

Engenheiro formado, casado e sem filhos, Luben remoeu até a queda da Cortina de Ferro um ódio corrosivo do regime. Ironicamente, a dezenas de milhares de quilômetros, sua irmã enfrentava prisão, tortura e ostracismo nas mãos de uma ditadura que se propunha a combater o comunismo.

As relações entre as famílias dos dois lados do Atlântico tiveram idas e vindas. A morte de Luben, em 2008, meses antes da primeira visita da futura presidente a Sófia, inviabilizou o que poderia ter sido um final feliz. Na época, Dilma se correspondia regularmente com o irmão e lhe enviava dinheiro.

O livro de Chade e Indjov é um passo importante para desvendar episódios que se confundem com os destinos do Brasil e da Bulgária. A abertura de arquivos oficiais dos dois países, que ainda são mantidos inacessíveis a jornalistas, biógrafos e historiadores, permitirá que a história dos Rússev-Rousseff seja, finalmente, contada por inteiro.

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