sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011


Jaime Cimenti

Jornalismos, jornalistas, sonhos

Entro nas oficinas do Jornal do Comércio. As rotativas estão agitadas e seus sons parecem dizer “já-te-conto!, já-te-conto!, já-te-conto!”, com seu ritmo apressado feito o das próprias notícias.

Mais de 30 anos depois de começar a colaborar com jornais impressos, as rotativas ainda me aquecem o sangue e a alma, me revelam que há muito que andar, que o tempo vive renascendo. Giacomo Baglio, com suas décadas de experiência e paixão pelo ofício, cuidadosamente observa as provas e as cores da edição, antes de aprová-las.

Os exemplares do jornal saem quentinhos e lembro de Rubem Braga, na crônica imortal, comparando jornalistas com padeiros e o jornal com pão quente, pronto para ser degustado no café da manhã. Já com o Viver nas mãos vou para a redação conversar com o pontual, laborioso e elegante Osni Machado, com o melhor página três (não só do JC) Fernando Albrecht e com meu mestre, guru e eterno interlocutor Roberto Brenol Andrade, que personifica o que o jornalismo tem de melhor e mais digno. Mal ou bem,acho que bem, somamos mais de cem anos de jornalismo.

É mole? Somos do tempo em que jornalistas não eram notícia e que repórteres andavam nas ruas, exercitando seus cinco sentidos e outros mais, vendo, ouvindo, cheirando, tateando, apurando o paladar, as pessoas e os fatos da vida.

Nada contra o trabalho matinal, vespertino e saudável nas redações atuais, via internet e outros meios eletrônicos. Tudo a favor do clima dialogante de cozinha enfumaçada que tinham as redações dos tempos do Róseo, que era como chamavam o Correio do Povo antigo. Tempos, jornalismos, jornalistas.

A paixão pelo jornalismo continua com a gurizada esperta e ligada que, apesar do vestibular, dos conhecidos problemas do mercado de trabalho e das outras dificuldades todas, segue adiante com as missões de informar, comentar, interpretar, analisar, conscientizar e sonhar.

A vida é sonho e os sonhos, sonhos são, já escreveu o Calderón de la Barca. Jornalismo segue sendo uma cachaça. Da boa, é claro. Dessas que aquecem no inverno, refrescam no verão e aguçam nossas consciências e sentidos, especialmente o social, o ano todo.

Poderosos e sem poder, não contem com o fim dos jornais (mesmo o dos impressos) e dos jornalistas. Não contem com o fim da liberdade e do mundo.

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