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quinta-feira, 6 de janeiro de 2011
06 de janeiro de 2011 | N° 16572
SOB O GUARDA SOL | Por DAVID COIMBRA
O amor para todos
Observe os argentinos na praia. Eles são gregários, eles estão sempre em turma, brincando, jogando. No fim da tarde, reúnem-se em rodas na areia, tomam chimarrão, conversam, lançam o olhar para a África, além do horizonte, e sonham. As mulheres usam aquelas batas e gargantilhas de conchas, os homens conservam os cabelos compridos e se abraçam e fumam.
Sabem com quem se parecem os argentinos na praia?
Com você. Com os brasileiros dos anos 70. Ou, vá lá, do começo dos anos 80.
O amor é que importava, naquela época, sabia? Amor para todos e talicoisa.
Lembro de uma vez em que fomos acampar em Cidreira. Nós, que digo, é o pessoal da faculdade, eu, o Sérgio Lüdtke, o Chico Trago, a Rosane, a Roseli e a Dulce. Eu era apaixonado pela Rosane, mas a Rosane vivia a repetir para mim o pior que uma mulher pode dizer a um homem:
– Tu é o meu melhor amigo...
Horrível. Como queria ser inimigo da Rosane.
Mas naquele fim de semana senti que tudo podia dar certo. Nós nas barraquinhas, com pouca roupa e menos espaço, clima de festa, oba, a vida é boa. E além do mais vivíamos num tempo de amor para todos, lembra?
De fato, durante o dia nossa sintonia foi se afinando. Ríamos, brincávamos e bebíamos com alegria, feito argentinos do século 21. À noite fazia um friozinho. O Sérgio preparou um risoto de camarão histórico, coisa muito séria. Eu ali, cercando a Rosane, não dando espaço para a concorrência, um Paulão na nuca do centroavante.
A noite avançou. Os eflúvios do vinho deixaram o ambiente brumoso. Rolou um Geraldo Azevedo (a Rosane a-do-ra-va Geraldo Azevedo). Pena que pena que coisa bonita, diga: qual a palavra que nunca foi dita?, diga, qualquer maneira de amor vale a pena, qualquer maneira de amor valerá.
Então, a Rosane saltou, dentro da sua blusinha colorida de hippie, e propôs:
– Vamos todos nos beijar???
Pensei: é agora. Gol do Brasil.
– Vamos! Vamos! – topei.
E preparei o biquinho, piscando para a Rosane. Aí ela acrescentou:
– Mas tem de ser TODOS. Todo mundo aqui se beija na boca.
Arregalei os olhos:
– Como assim?
– Todos – confirmou ela. – Homem com homem, mulher com mulher, mulher com homem. Na boca. De língua.
Olhei para o Sérgio. Olhei para o Chico Trago. O Chico Trago usava barba. Suspirei:
– Não vai dar, Rosane...
O amor, afinal, não pode ser para TODOS. Melhor deixar essas coisas para os argentinos.
Vida praiana
Acordei. Abri as janelas de par em par. Olhei para a quarta-feira azul e amarela. Respirei fundo o ar marinho. E pensei: hoje quero provar pastelzinho de siri em frente ao Atlântico marulhante, sim senhor. Cheguei à praia. Pedi pastelzinho de siri. Só tinha de camarão. Que chato.
Cena espetacular
Passava das 14h de ontem quando o helicóptero branco da Brigada fez um movimento decidido de aproximação da faixa de mar em frente à guarita 89, em Xangri-lá.
Alguém estava se afogando.
De longe, via-se duas cabecinhas escuras em meio às ondas. O helicóptero pairou sobre elas como um grande beija-flor. Um dos salva-vidas saltou no mar. Outro ficou pendurado periclitantemente, manejando uma corda que tinha, na ponta, uma rede parecida com essas de caçar borboleta, só que em tamanho gigante.
Em dois ou três minutos, com grande habilidade, o salva-vidas resgatou um afogado. Em mais dois minutos, o helicóptero estava subindo, levando o salva-vidas e um gordinho de sunga azul-clara e costas peludas, estilo Toni Ramos. Os dois foram depositados gentilmente na areia, após o que o helicóptero voltou para pescar outro incauto. Um quarto de hora, não mais do que isso, e os PMs salvaram duas vidas.
Ninguém aplaudiu.
- Nome: Indianara Gonçalves
- Idade: 20 anos
- Cidade: Arroio do Meio
- Praia: Tramandaí
- Time: Inter
- Hobby: Jogar vôlei
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Um comentário:
Essa foto está linda.
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