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quinta-feira, 6 de janeiro de 2011
06 de janeiro de 2011 | N° 16572
LETICIA WIERZCHOWSKI
Mar, não leva eu!
Sou uma gaúcha assim com alma de carioca – nada me deixa mais feliz do que um dia inteiro com os pés na areia, marzão, sol e calor. De bom grado, ofereço aos meus meninos longas manhãs e pacatas tardes praianas, com banhos de mar, castelos e buracos na areia.
Minhas melhores memórias de infância provêm de uma casa azul em meio às dunas de Cidreira, uma praia que, há trinta e cinco anos, era muito tranquila, e em cuja larguíssima faixa de areia gastei deliciosas tardes da minha vida.
No ano passado, enquanto meu filho mais velho se aventurava pelas águas com uma coragem quase temerária (ainda me vejo à beira da água, chamando-o para mais perto, por favor), o meu caçula, para meu desespero, imitava-lhe loucamente o exemplo.
Tal qual um desses bonecos de corda, eu punha o pequeno na areia, e ele corria para o mar. Adentrava as ondas bravias com uma empáfia que fazia os adultos rirem na areia. As ondas estouravam-lhe na cara, e o Tobias nem aí. Era preciso segurá-lo, aos berros, trazendo-o para a segurança do guarda-sol, quando então ele começava tudo de novo.
Nesse ano, vim preparada para a peleja. Comprei até um colete inflável para o meu pequeno amante do mar, e qual não foi o meu susto quando, no primeiro dia de praia, o Tobias se pôs a berrar por uma hora inteirinha, com medo de que o mar, quieto lá no seu canto, viesse roubar-lhe os brinquedos. Foi uma tal gritaria que a areia esvaziou-se ao nosso redor.
Por fim, o menino se conscientizou de que o mar não queria mesmo nada com o seu balde e as pás de plástico; mas, desde então, passa na areia, ora brincando animadamente, ora derramando lastimosos olhares para aquela enorme massa de água salobra, enquanto diz, numa súplica: “Mar, não leva eu… Ai, mar, não leva eu”.
Já faz muitos dias, e a cantilena segue. Praia sim, areia sim, mas mar? Enquanto o mais velho toma homéricos banhos, meu pequeno Tobias passa a manhã inteira barganhando com o oceano: “Mar, não leva eu!”. Ah, por que estranhos caminhos segue o amadurecimento infantil…
Sei bem que, se não nesse, em algum outro verão verei meu filho se refestelando nas ondas como qualquer outro menino da sua idade. Porém, não deixo de sentir que ele guarda alguma sabedoria, quando mira a imensidão de água e começa a sua curiosa pregação. Como é mesmo aquela música do Paulinho da Viola? O mar não tem cabelos que a gente possa agarrar...
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