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quinta-feira, 6 de janeiro de 2011
ELIANE CANTANHÊDE
Sobrou para Dilma
BRASÍLIA - Enquanto Lula descansa no Guarujá, Dilma Rousseff vai tentando resolver problemas que ele jogou no colo dela.
A decisão do STF de extraditar o ex-guerrilheiro Cesare Battisti para a Itália, delegando ao presidente a palavra final, foi publicada em abril de 2010. Lula teve, portanto, oito meses para estudar a questão e decidir.
Mas enrolou, enrolou, enrolou e só anunciou que manteria Battisti no Brasil como imigrante no último momento. E o pior é que, durante todo o tempo, todo mundo sabia que o desfecho seria esse.
Se a decisão já estava tomada, por que Lula só a anunciou ao apagar das luzes? Porque ele não gosta de decidir, foge de confrontos, faz o que pode para preservar sua altíssima popularidade. Sobrou para Dilma, na estreia de seu mandato, não só negociar as pazes com o governo e as instituições italianas como também suportar as manifestações populares contra o Brasil.
Algo parecido ocorreu com o programa de renovação dos caças da Aeronáutica. O relatório técnico, com milhares de páginas, ficou pronto em dezembro de 2009. Lula, portanto, teve um ano inteiro para estudar a questão e decidir. Mas enrolou, enrolou, enrolou e só anunciou nos últimos dias de seu governo que não iria decidir coisa nenhuma. Aliás, quem acabou assumindo o adiamento foi Dilma.
A bomba Battisti e a bomba dos caças são exemplos contundentes da incapacidade de Lula de enfrentar o que tem de ser enfrentado, mas há outros, como o caos aéreo de quase um ano. Possivelmente, isso não teria acontecido se fosse Dilma a presidente. (A conferir...)
Com o país extasiado pelo presidente falante e pelo governo bem avaliado, a essas e outras se somam as reformas política, tributária e trabalhista, que se arrastaram durante oito anos até caírem no limbo e ninguém mais falar nisso.
Dilma, coitada, vai ter que resolver tudo isso. E sem poder reclamar da "herança maldita".
elianec@uol.com.br
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