quarta-feira, 5 de janeiro de 2011



05 de janeiro de 2011 | N° 16571
MARTHA MEDEIROS


A vida é curta

Amanhã é Dia de Reis. Segundo a tradição, é quando se deve desmontar a árvore de Natal, mas fico pensando se a trabalheira não será à toa. O próximo Natal já se aproxima, não seria mais conveniente deixar a árvore onde está, como um enfeite vitalício da casa? O espaço entre dois Natais nunca foi tão curto.

Constatado o milagre da redução dos anos (antigamente eles possuíam 365 dias, mas desconfio de que somem hoje no máximo uns 274), o melhor a fazer é desfrutar o tempo que nos resta.

Pra começar, chega de seguir ao pé da letra as regras de bem viver estabelecidas pela intelectualidade. Claro que cultura é importante, que não se deve desdenhar da sabedoria transmitida pelos filósofos, que a inteligência é o valor maior. Mas basta desse monopólio: é chegada a hora de valorizar também os instintos.

Se a palavra de ordem é produzir, produzir, produzir, responda com uma boa soneca: durma depois do almoço. Assuma o espanhol que há em você: siesta! Se não puder sair do escritório, tire um cochilo onde estiver, estique-se em algum canto, durma no carro, dentro do banheiro, sentado numa cadeira. Feche os olhos e desapareça por 20 minutos, mesmo que todos continuem vendo.

Você está indo bem na terapia, quase acredita que está se curando, ainda que não tenha entendido exatamente do que deve se curar. Mas, sem que seu digníssimo analista suspeite, reprise alguns de seus erros de vez em quando. Recaia. Sucumba. Vai atrasar o tratamento? Vai. Mas logo, logo, é Natal, jingle bell, paz na terra, estarão todos perdoados por terem reincidido em seus pequenos e deliciosos crimes contra si mesmo.

Se dirigir, não beba. Se costuma ficar violento, não beba.Se é do tipo que dá vexame, não beba. Se tem um histórico de alcoolismo, não beba. Mas se não for colocar ninguém em risco, muito menos a si próprio, celebre. Tim-tim!

E se é verdade que dentro do mais chique dos mortais há um brega enrustido que não vê a hora de se manifestar, eis o momento. Abuse do Roberto Carlos, cante no chuveiro, leia um best-seller daqueles que fazem seus amigos torcerem o nariz e enfeite seu drinque colocando nele uma sombrinha de papel colorido.

A sombrinha de coquetel é o símbolo máximo do “estou nem aí para o que irão pensar, sempre quis me sentir num luau havaiano”. Pode ser uma sombrinha metafórica, desde que simbolize seu estado de espírito, que faça parte do plano de desestressar e curtir a seu modo o restinho de ano que sobra. Estamos em janeiro, o inverno é amanhã e o Natal não demora. Contra-ataque com a sombrinha.

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