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sábado, 7 de junho de 2008
07 de junho de 2008
N° 15625 - Paulo Sant'ana
Assalto à mão gravada
As gravações telefônicas estão presidindo o metabolismo da política gaúcha.
Pela conversa gravada entre o vice-governador Paulo Feijó e o chefe da Casa Civil, Cézar Busatto, a opinião pública ficou sabendo de algo que já desconfiava: os partidos políticos se alimentam de dinheiro público para sobreviverem administrativa e eleitoralmente.
E se supõe verossímil que, neste rodamoinho do dinheiro público que vai se despejar sobre os caixas partidários, no trajeto muito desse dinheiro vai parar nos bolsos dos políticos corruptos.
Mais uma vez, entre todos os escândalos, fica evidenciado que na origem da corrupção nos negócios públicos está o subvencionamento dos partidos.
Todos desconfiávamos ou já sabíamos.
Busatto só foi o primeiro a declarar, sem saber que estava sendo gravado.
A gravação da conversa entre os dois próceres das hostes governistas (se é que se pode chamar assim a Paulo Feijó) está quase inaudível pela parte da voz do secretário da Casa Civil.
Mesmo assim, Cézar Busatto deu a entender que o Detran é feudo do PP e o Banrisul é feudo do PMDB.
E Cézar Busatto também dá a entender que há muitos anos esses feudos sustentam financeiramente os dois partidos.
Assim é no Daer, assim é na CEEE, assim é em toda parte.
Por isso é que os servidores da área da Segurança Pública já há 12 anos não obtêm um centavo de reajuste em seus vencimentos.
A política é feita assim entre nós. Sai dinheiro dos cofres públicos para os partidos.
E no meio dessa sarabanda de ilícitos locupletam-se pessoalmente os intermediários dessa transação.
No entanto, quem soube do episódio ontem restou perplexo. O chefe da Casa Civil foi até o Palacinho, sede do vice-governador, numa missão de paz: tentar atraí-lo para o remanso do Piratini, reaproximá-lo da governadora, tirá-lo da obstinação de ser um inimigo na trincheira, um neo-oposicionista eleito pela coalizão que elegeu o governo.
E lá no gabinete do vice-governador o dono da sala tinha engendrado uma armadilha para o visitante, esperou-o com um gravador engatilhado, com o visível propósito de atrapalhar ainda mais o governo no drama que vive, engolfado pelos escândalos do Detran.
Mas se fosse só para reforçar o arsenal de denúncias que recolhe contra o governo, ainda se compreenderia que o vice-governador gravasse o chefe da Casa Civil e guardasse a gravação.
Nada disso, para espanto geral, o vice-governador gravou o secretário e saiu correndo para levar a gravação, não para a bancada governista, mas para entregá-la para a bancada do PT.
Esperava-se tudo do vice-governador, estreante em política, no afã de ser mais participativo no governo e de impor suas idéias junto ao poder erigido, do qual discorda frontalmente, menos essa atitude de repulsa total à ética e à lealdade política que talvez ainda restassem ao seu propósito de fazer desmoronar o governo.
Política se faz com conversa, sim, quase que só com conversa, mas não com gravador debaixo da mesa para gravar a conversa e ir entregá-la à oposição.
Gravador é instrumento para a polícia, não para político.
O gravador do vice-governador acabou por atenuar a culpa que tivesse o secretário da Casa Civil por ser tão sincero ao expor na conversa os tradicionais e condenáveis métodos político-partidários.
O gravador é um intruso indesejável e destruidor da intimidade de uma conversa. Ele não se compatibiliza com receber uma pessoa, oferecer-lhe um cafezinho, apertar-lhe a mão depois de longa conversa - e ir oferecer logo em seguida à oposição e à imprensa o teor do que foi conversado.
Foi muito feio.
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