sexta-feira, 6 de junho de 2008



06 de junho de 2008
N° 15624 - Paulo Sant'ana


Um apelo

"Caro Paulo SantAna. Meu nome é Maria Teresa, sou catarinense de nascimento, mas gaúcha de coração desde 1998, quando passei a residir por aqui, tão logo fui aprovada e tomei posse no cargo de juíza do Trabalho. Desde então, meu marido também se fixou profissionalmente em Porto Alegre e nossos filhos nasceram aqui pela terrinha. Logo, nossas raízes se formaram e continuam crescendo em solo gaúcho.

Inicialmente, parabenizo-te pela propriedade, atualidade e qualidade de tuas crônicas, sempre lidando com fatos/ assuntos de interesse coletivo.

O motivo de meu contato é, de um lado, um pouco altruísta, e, de outro, um tanto egoísta.

Deves estar te perguntando como se conciliam dois atributos de índole tão distintas... mas já te explico.

Ocorre que a minha irmã mais velha, Maria Letícia, de 50 anos, é portadora de leucemia mielóide aguda desde 23/08/2007, há pouco menos de um ano, portanto.

Desde a notícia de tão insidiosa doença, a família tem se esforçado enormemente no sentido de se conseguir um doador de medula, única opção de sobrevivência do doente que não encontra êxito, após cinco dolorosos e intermináveis ciclos de quimioterapia (três semanas a um mês de internação cada um), no procedimento denominado autotransplante (quando é colhida e transplantada a medula tratada do próprio paciente).

Pois bem, parece mentira, mas de uma família de seis irmãos, um homem e cinco mulheres, a única que não encontrou compatibilidade de medula foi exatamente a doente. Todos os outros irmãos são compatíveis entre si, e ela, que necessita, não logrou encontrar nem na família, nem fora dela, um doador compatível.

A corrida contra o tempo começou.

Quem não tem uma doença desse quilate na família, desconhece a dor de lutar contra os dias, que se esvaem, correm e não param, como sabemos.

Desconhecem aqueles que não vivenciam essa realidade, outrossim, como é simples doar esse líquido (sim, a medula é composta por um líquido, chamado líquor! Não tenho vergonha de dizer que, antes de tudo isso, desconhecia esse fato).

Basta que a pessoa se dirija ao hemocentro de sua cidade (aqui em Porto Alegre, há duas outras opções, o Hospital de Clínicas e a Santa Casa) e colete cerca de 10ml de sangue. Seu sangue será tipado por exame de histocompatibilidade (HLA), que é um teste de laboratório para identificar as características genéticas que podem influenciar no transplante.

Pronto! A partir daí, aquela pessoa passa a fazer parte do Redome (Registro Nacional dos Doadores de Medula). Caso haja compatibilidade com um doente, essa pessoa será convidada a se tornar um doador.

O procedimento, em caso de aceitação, também não é complicado: a pessoa permanece internada por 24 horas ou pouco mais, para retirada de parte do líquor da medula. No dia seguinte, havendo desconforto, o tratamento é feito com analgésicos. Normalmente, os doadores retornam às suas atividades habituais cinco dias após a doação.

Insta ressaltar que QUALQUER PESSOA com idade entre 18 e 55 anos pode se tornar doador.

Ouve-se muito nesse meio que para o doador, a doação será apenas um incômodo passageiro. Para o doente, será a diferença entre a vida e a morte (sítio do Instituto Nacional do Câncer, www.inca.gov.br).

Pois é. E é nesse quadro que ora estamos. Estamos em campanha aqui e em Santa Catarina (minha irmã reside em Florianópolis) desde agosto passado e nada.Recorro a ti pela abrangência e força das tuas palavras...

É claro que não almejo que tu fales em tua coluna sobre o caso pessoal da minha irmã. Seria muita pretensão.

Todavia, tenho certeza de que maiores esclarecimentos acerca da doação de medula na tua coluna despertariam na tua imensa legião de leitores a VONTADE de ser doador, e a CERTEZA de que esse gesto é mais simples do que reputamos.

Peço, assim, o teu apoio nessa campanha, que não é minha, mas de milhares que se encontram nessa situação.

Solicito, ainda, que, na impossibilidade de tratares desse assunto na tua coluna, repasses este e-mail aos teus colegas Martha Medeiros e Moacyr Scliar, de igual generosidade e competência literária.

Obrigada, (ass.) Maria Teresa Vieira da Silva, juíza do Trabalho do TRT da 4ª Região (mvsilva@trt4.jus.br ou mariateresavs@gmail.com), fone (51) 3407-0815".

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