Aqui voces encontrarão muitas figuras construídas em Fireworks, Flash MX, Swift 3D e outros aplicativos. Encontrarão, também, muitas crônicas de jornais diários, como as do Veríssimo, Martha Medeiros, Paulo Coelho, e de revistas semanais, como as da Veja, Isto É e Época. Espero que ele seja útil a você de alguma maneira, pois esta é uma das razões fundamentais dele existir.
sexta-feira, 6 de junho de 2008
06 de junho de 2008
N° 15624 - Liberato Vieira da Cunha
As esquinas da Duque
O que eu fiz na tarde de 24 de agosto de 1984? Olhei para o mundo exterior à Redação de Zero Hora e vi aquela neve caindo sobre Porto Alegre e decorando com efêmeros ornatos os cabelos longos de uma bela garota que passava.
Numa manhã do mesmo ano, mas no começo de abril, descerrei as cortinas da janela do hotel em Steamboat Springs, que é uma aldeia que fica no alto das Montanhas Rochosas, e percebi que o universo se eclipsara, engolido por uma branca avalanche.
No final de novembro de 1991, vi neve três vezes no decorrer de uma mesma viagem. Primeiro foi em Hamburgo, e lá estava a cidade imersa num alvo pavê, que encobria os prédios, as calçadas, mas não as largas avenidas, desobstruídas por umas máquinas que lembravam Gregor Samsa em sua metamorfose.
Depois, num entardecer em Leipzig, onde o avião tinha aterrissado porque o aeroporto de Dresden submergira numa tempestade (tive de tomar um trem, felizmente com ótima calefação, para chegar a meu destino).
E ainda em Munique, onde o ar congelava até a voz das pessoas e a scort alemã, por sinal uma condessa, me sussurrou que na noite anterior os termômetros haviam descido a muitos graus abaixo de zero.
Corta para fevereiro de 1996. Eu havia decolado de Málaga, onde o clima era brandamente mediterrâneo, e ao baixar em Paris me senti em outra dimensão. Nevava - e creio que as pessoas, os parques, os edifícios nunca foram mais lindos do que naquele momento.
Conheci mais neves, mas calo sobre elas, ou esta crônica vai virar um boletim meteorológico. A neve só pousou sobre este texto porque no último sábado vivi uma experiência única.
Tendo de sair cedo de casa, e ouvido no rádio que o outono reinante levava mais jeito de inverno, me agasalhei e enfrentei a Rua Duque. Ao primeiro passo fora de casa, senti saudade do sobretudo.
A cada esquina, a cada vez que as ladeiras abriam o sinal para os ventos do Guaíba, se inaugurava a próxima Era Glacial. Um sopro gélido imobilizava os seres e as coisas.
Foi quando pensei: não precisamos de neve. Bastam-nos os vendavais das esquinas e escadarias da Rua Duque.
Excelente sexta-feira e um ótimo fim de semana para todos nós, ainda que com chuva por aqui, neste outono que já está indo embora.
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