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quinta-feira, 5 de junho de 2008
05 de junho de 2008
N° 15623 - Paulo Sant'ana
Bomba retardada
Havia mesmo um descompasso entre as declarações dos acusados na CPI do Detran e o aceitamento da denúncia pela senhora juíza de Santa Maria.
Com a divulgação, ontem, das gravações realizadas pela Polícia Federal, compreendem-se melhor as investigações, a denúncia e o aceitamento dela.
Se os deputados integrantes da CPI já tivessem em seu poder as gravações ontem divulgadas, quando foram ouvidos muitos acusados, os interrogatórios teriam tomado outro rumo.
Os acusados passaram todo o tempo negando as imputações, mas, se tivessem sido confrontados com as gravações, teriam maior dificuldade para isso.
Na Polícia Federal, deve ter sido assim. Lá os acusados foram confrontados com as acusações. E desse confronto nasceu o indiciamento, floresceu a denúncia e consagrou-se o aceitamento da denúncia.
Após a divulgação, ontem, das gravações constantes do processo que já corre na Vara Federal de Santa Maria, valoriza-se ainda mais o papel do telefone na vida moderna.
Mesmo receando que pudessem estar sendo gravados, os integrantes da trama que assaltou os contribuintes e o Detran não puderam deixar de se telefonar. Na grande maioria dos telefonemas, foram evasivos, sucintos, lacônicos, usaram códigos, mas não puderam renunciar aos telefonemas.
Em muitos telefonemas, eles deixaram bem claro que desconfiavam que pudessem estar sendo gravados, mas tinham de marcar os encontros pessoais urgentes - e por isso telefonavam.
Há telefonemas em que fica nítido que o dinheiro da propina era dividido entre todo o bando.
E há telefonemas em que fica claro que a intentona criminosa espalhou-se pelo círculo concêntrico mais aproximado do poder.
Há um telefonema em que "1 milhão é destinado a tais pessoas e R$ 250 mil é para ti".
Dinheiro correndo todos os meses e desentendimentos entre os beneficiários, provocando reuniões de acerto para os desacertos.
Por isso é que a CPI parecia não ter eficácia e patinava quando trombava com as negativas dos acusados: é que a polícia sabia muito mais que a CPI, a Polícia Federal tinha muito mais certezas do que a CPI.
É evidente que houve confissão de alguns acusados, que houve delação premiada e com isso na Polícia Federal outros acusados não puderam negar o que negaram na CPI.
Quase todos os depoimentos de acusados na CPI restaram inúteis por eles não terem sido confrontados com as provas que a Polícia Federal possuía.
E, agora, a CPI vira um barril de pólvora político. Ontem, vários deputados do grupo governista foram obrigados a admitir o vulto imenso do escândalo.
O melhor que a CPI tem a fazer é deixar que a responsabilidade penal dos acusados que viraram réus e já foram ouvidos por ela seja lá no âmbito judiciário decidida.
E apure tão-somente a responsabilidade política dos envolvidos, tratando de resguardar a moralidade dos atos públicos no restante do mandato e da legislatura.
Porque chamar novamente os acusados demandaria uma nova CPI.
O fato é que a bomba da divulgação das gravações ontem realizada vai causar danos irreparáveis ao equilíbrio político-partidário gaúcho.
A governadora Yeda Crusius terá de desenvolver esforços hercúleos para administrar as águas revoltas do barco governista contra os rochedos afiados da oposição.
Deus guarde o Rio Grande.
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