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quarta-feira, 4 de junho de 2008
04 de junho de 2008
N° 15622 - Paulo Sant'ana
E o Estatuto?
Ou eu estou deslocado, ou atendo ao bom senso e revoltam a minha sensibilidade alguns atos incompreensivelmente perversos.
Belisquei-me para ver se o que estava vendo é real: lutas de boxe tailandês, tae kwon do ou seja lá o que for, entre crianças em torno de oito anos de idade.
E meninos de cinco anos já sendo adestrados para essas lutas. E em Porto Alegre há já centros de prática dessas lutas. É inacreditável.
Esse tal de boxe tailandês consiste no enfrentamento entre dois lutadores, num ringue, valendo socos, pontapés e joelhadas.
Só eu nunca pensara que pudessem colocar num ringue duas crianças de oito anos para exercitar tal tipo de violência, por todos os títulos já temerária entre adultos, que fará em crianças.
Não sabem os organizadores dessas lutas em Porto Alegre que foram aos milhares os boxeurs que restaram com sérias seqüelas mentais ocasionadas pelos golpes que levaram em suas carreiras?
Não percebem que aos oito anos de idade, adestrados para essa violência, esses meninos podem se tornar no futuro, pelo exercício permanente e competitivo da violência, alguns deles, verdadeiras feras de agressividade no meio social?
Sei que usam proteção nas cabeças das crianças litigantes. Mas isso não impede que os golpes que lhes são desferidos ou que desferem ocasionem lesões nos cérebros dos atingidos. No cérebro e em outros órgãos, os chutes e pontapés vão aos poucos minando a sua energia muscular, o seu fígado, o seu pâncreas, os seus rins, até os seus pulmões.
Como é que podem existir pais e mães que carreguem para essa selvageria seus filhos?
O que passa pela cabeça de um pai quando põe dentro de um ringue um filho cujo cérebro e teias musculares e ósseas ainda estão em formação e recebem todas as semanas pancadas de seus adversários?
No caso desses esportes violentos em que intervêm os adultos, ainda se consente. Porque o adulto tem vontade, tem autonomia volitiva, ele pode fazer do seu corpo o que quiser, não depende de autorização de ninguém.
Mas essas crianças que estão pondo nos ringues não possuem vontade reconhecida pela ciência e lei. Necessitam da tutela paterna, que no entanto não possui o direito de fazê-las enfrentar em luta física encarniçadas outras crianças.
A tutela delas nesse caso passa para o Estado. Que trauma deve se instalar nas mentes dessas crianças, inutilizando-as para toda a vida!
Eu vi com meus olhos entrevistarem, no Fantástico, uma criança dessas de oito anos, à beira do ringue e ao lado de seu pai.
O repórter perguntou à criança se ela gostava daquela luta de que participava. Ela disse que não. Então o repórter indagou dela, sob as vistas e ouvidos de seu pai, por que então ela lutava. E ela respondeu que lutava porque se não lutasse seria surrada pelo pai.
O pai ficou sem jeito e tentou fazer graça com a resposta da criança, mas ficou nítido que aquela criança era forçada a lutar.
Revoltante.
O que mais me admirou é que fosse permitido esse tipo de luta. Não tenho dúvida que ainda esta semana essas lutas serão proibidas pelos juizados de infância e adolescência.
Se até as lutas entre galos de rinha são proibidas, tendo como um dos pressupostos a proteção dos animais, que muitas vezes vão até a morte na litigância do tambor, com sangue para todos os lados, como pode o senso comum e a compreensão da sociedade permitir que crianças de oito anos se enfrentem a socos, pontapés e joelhadas, satisfazendo assim o sadismo de seus pais e espectadores?
Aposto que essas lutas serão imediatamente proibidas. Elas significam um atraso de 3 mil anos na civilização.
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