quarta-feira, 4 de junho de 2008



04 de junho de 2008
N° 15622 - Martha Medeiros


O terrorismo tabagista

Em fevereiro de 2009, as embalagens de cigarro vão ficar ainda mais terroristas do que já são: foram divulgadas as novas fotos que serão publicadas nas carteiras.

É o supra-sumo do trash: um feto jogado num cinzeiro, um tórax aberto mostrando um coração infartado, um pé gangrenado, um menino observando o pai morrer, um corpo abandonado num necrotério e outras imagens que o Zé do Caixão adoraria estampar numa camiseta.

É importante que se restrinja o fumo em locais públicos e que se proíba a propaganda que glamoriza o cigarro. Muita gente morre por causa de doenças provocadas pelo tabagismo.

É um assunto de saúde pública. Mas essas embalagens, francamente. Os fumantes já sofrem uma patrulha incansável, não podem fumar em lugar algum e são rejeitados pela sociedade. Não precisam de mais esse constrangimento.

Não faz muito, os estúdios de Hanna Barbera foram pressionados a reformular alguns episódios antigos de seus desenhos animados. Não sei se chegou a acontecer, mas havia uma exigência de que todas as cenas em que Tom e Jerry aparecessem fumando fossem manipuladas a fim de que se desse um sumiço no cigarro.

O fato de Tom e Jerry torturarem um ao outro com crueldade nunca incomodou ninguém, mas fumar, que mau exemplo! Radicalismo, chama-se isso.

Ninguém deveria começar a fumar. Com as informações que se tem hoje, acender o primeiro cigarro é burrice. Mas ninguém precisa humilhar aqueles que têm nesse hábito um prazer.

Se a pessoa obedece às regras do bom convívio social (fuma longe dos outros), que seja deixado em paz: é um adulto e fez sua escolha. Acho imprescindível tentar despertar a consciência dos fumantes, mas sem histeria.

Sei que algumas pessoas são xiitas contra o cigarro e aplaudirão as embalagens apelativas. Outras acreditam que qualquer restrição é hipócrita, uma vez que ninguém impede a indústria tabagista de seguir fabricando o produto, e há ainda a questão do álcool, que segue sendo abertamente estimulado, apenas com a advertência de se beber com moderação.

Não há nada mais difícil do que encontrar o tal senso comum.

Reconheço a boa intenção do Ministério da Saúde, mas as novas embalagens de cigarro já viraram até piada (tem homem entrando em tabacaria e pedindo para trocar o maço da impotência sexual pelo maço do enfisema).

Claro que fumar é uma asneira, mas também não é pecado, não é crime. Os fumantes se privam em viagens, elevadores, cinemas, shoppings, restaurantes, não fumam nem na casa dos amigos, só com permissão, e numa área aberta.

Estão fazendo a parte deles, respeitando os não-fumantes e seguindo as imposições da lei.

Nunca se rebelaram contra esse cerco, são até afáveis com quem lhes pressiona. E ainda assim a gente vai continuar infernizando os coitados? Não sou fumante, mas me solidarizo: é dificílimo parar de fumar.

É preciso procurar ajuda, estar realmente predisposto ou ter passado por algum susto real. As fotos nas embalagens servem apenas para xaropear.

Excelente quarta-feira especialmente a você que vem aqui todos os dias, seja de que país for. A dona Leticia Hoppe, espero que não tenha tido dificuldades para chegar aqui.

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