Aqui voces encontrarão muitas figuras construídas em Fireworks, Flash MX, Swift 3D e outros aplicativos. Encontrarão, também, muitas crônicas de jornais diários, como as do Veríssimo, Martha Medeiros, Paulo Coelho, e de revistas semanais, como as da Veja, Isto É e Época. Espero que ele seja útil a você de alguma maneira, pois esta é uma das razões fundamentais dele existir.
terça-feira, 3 de junho de 2008
03 de junho de 2008
N° 15621 - Cláudio Moreno
Ocas e transparentes
Para servir de exemplo para as gerações futuras, o grego Plutarco escreveu, no primeiro século da Era Cristã, as biografias daqueles que, a seu ver, eram os personagens mais famosos da Antigüidade.
Algumas se perderam, mas as 50 Vidas que chegaram até nós formam uma inestimável coleção de reis, generais, tiranos, traidores, valentes e poltrões - seres humanos extraordinários, sem dúvida, que sempre nos fascinarão por suas boas ou por suas péssimas qualidades.
Plutarco nos surpreende, às vezes, pelo detalhe. Ele narra a dura carreira de Agesilau, o temido general espartano, homem de poucas palavras e de muitas cicatrizes, que rejeita uma velhice tranqüila e vai, já com 80 anos, comandar um exército de mercenários a serviço do Egito.
Toda a Ásia respeitava seu nome, pois ele tinha passado por todos os países da região sem pedir licença a ninguém; a cada reino que chegava, limitava-se, no bom estilo espartano, a avisar que ia atravessar - e que decidissem se ele ia fazê-lo como amigo ou como inimigo.
Pois esse rude soldado, conta-nos Plutarco, costumava montar num cavalinho de pau e brincar alegremente com seus filhos pequenos; surpreendido um dia por um visitante, pediu-lhe que só comentasse o fato quando ele próprio fosse pai, pois então entenderia o que aquilo representava.
Outra ilustre figura é Paulo Emílio, varão honesto e inflexível, que comandou as forças romanas em várias campanhas contra os bárbaros. Nas províncias revoltosas, conquistou mais de 250 cidades - mas, quando voltou a Roma, não estava nem um centavo mais rico.
Depois de muitos anos de casado, divorciou-se de sua esposa, sem que ninguém soubesse a razão. Tudo que fez foi contar a alguns amigos a história de um romano que, como ele, tinha se separado. "Não era discreta? Não era bonita?
Não era fértil?" - tinham lhe perguntado; ao que ele, mostrando a sandália que trazia no pé, teria respondido: "Não é bem feita? Não está novinha? Não é bonita? No entanto, nenhum de vocês sabe onde ela machuca meu pé!". E mais não disse.
Não sei se os estranhos tempos em que vivemos entenderão homens tão discretos assim, tão reticentes quanto à sua intimidade. Parece não haver mais lugar para véus ou disfarces: tudo o que se faz, se diz - e todo o mundo se interessa por isso.
Um Agesilau moderno não se negaria a dar uma entrevista sobre suas brincadeiras infantis, e talvez até concordasse, diante das câmeras, em cavalgar o cabo da vassoura.
O divórcio de Paulo Emílio seria anunciado e comentado nas revistas do momento, com a foto e a versão da ex-esposa.
Expondo sua intimidade ao público, que precisa espiar a vida dos outros para se sentir existindo, as pessoas se tornam ocas e transparentes, seres desprovidos de substância que voam, como folhas secas, ao sabor da moda do dia.
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