Aqui voces encontrarão muitas figuras construídas em Fireworks, Flash MX, Swift 3D e outros aplicativos. Encontrarão, também, muitas crônicas de jornais diários, como as do Veríssimo, Martha Medeiros, Paulo Coelho, e de revistas semanais, como as da Veja, Isto É e Época. Espero que ele seja útil a você de alguma maneira, pois esta é uma das razões fundamentais dele existir.
sábado, 9 de fevereiro de 2008
10 de fevereiro de 2008 | N° 15506
David Coimbra
Uma tarde histórica nos píncaros do IAPI
As gurias patinavam de sainha bem curtinha, plissada e tudo mais. Aí é que está. Era legal ver as gurias girando em cima das rodinhas, dentro das sumárias saias plissadas delas, as pernas lisas aparecendo até o alto mais alto das coxas e nós:
- Óóó, que tri...
Elas iam patinar no colégio Dom Bosco. O Dom Bosco fica nos píncaros do IAPI, e isso poucos sabiam, que o IAPI tinha píncaros. Pois tinha. Tem.
Nos fins de semana, o colégio não fechava, as quadras de futsal, as canchas de patinação, tudo continuava franqueado para toda a gente, e então a gurizada ia para lá, e era uma festa.
Nós saíamos do sopé do morro do Alim Pedro, das faldas da Plínio Brasil Milano, e subíamos as ruazinhas gingando feito gatos de rua, o time prontinho, eu, o Jorge Barnabé, o Plisnou, o Diana, às vezes o Cavalo, às vezes o Sérgio Anão.
Subíamos fazendo sacanagem, contando histórias da noite anterior, da festa no Gondoleiros animada pelo Conjunto Impacto ou pelos Discocuecas. Era muito tri.
O problema do nosso time é que em geral nós não tínhamos bola para jogar. Era preciso esperar um adversário com bola. Tudo bem, ficávamos vendo as gurias rodando de minissaia. Tri.
Certo. Um dia, estávamos tranqüilões, observando as gurias, comentando sobre a habilidade de Edna, lembro bem de Edna, moreninha, magrinha, mas com curvas, assim era Edna, e nosso time a amava. Naquela tarde, bebíamos as evoluções de Edna, nos cevávamos com a visão de Edna, e eles chegaram. Outro time. O time dos grandões do São João.
Os grandões do São João eram de fato grandões. Todos maiores e mais fortes do que nós. E jogavam muito. Mas muito.
Eles tinham uma bola. E nos desafiaram para um jogo. Aceitamos. Não sabíamos, mas aquele seria um jogo histórico. Seria um jogo para lembrar para sempre.
Nunca havíamos jogado contra os grandões do São João. Entramos na quadra sestrosos, planejando nos entocar numa retranca e vencer de escapada. Só que não deu. No primeiro movimento do jogo, os grandões trocaram passes daqui para lá, de lá para cá, tudo muito rápido, e a bola caiu no pé de um canhoto, e ele mandou um bazucaço no canto, o Diana nem golpe de vista fez: 1 a 0 para eles.
A coisa não ia bem. A coisa não ia nada bem. Pior ficou depois de uma simples cobrança de lateral: a bola foi atirada na área, um dos grandões cabeceou para trás. Daí, de algum lugar desconhecido e sombrio, surgiu um daqueles monstros, e surgiu zunindo, resfolegando, urrando f eito bicho e, antes de a bola tocar no chão, pegou de prima: CABUMBA!, 2 a 0.
Bitz.
Eles eram rápidos, a bola estava aqui e, quando a gente ia, não estava mais. Eles não paravam de correr e se movimentar e mudar de lugar e tocar a bola e aquilo nos deixava tontos, pela Virgem! Resumo: no fim do primeiro tempo de 20 minutos, 4 a 0 para eles.
Fizemos um intervalo. Eles ficaram batendo bola e nós nos reunimos num bolinho.
- Não vai dar, não vai dar...
- É, não vai dar...
Nesse momento, vimos a cena: Edna estava lá, à margem da quadra, assistindo ao jogo, sorrindo e abanando para um dos grandões, o tal que rosnava para chutar e que fez o segundo gol.
- Ah, não! - disse o Plisnou.
- Que vergonha! - tapei os olhos com as mãos.
- Vamos ter que reagir - diagnosticou o Diana.
Fizemos, então, o que resta fazer a quem joga contra adversários maiores, mais fortes, mais rápidos, que jogam mais e que estão vencendo por 4 a 0: apatifamos.
Mandamos bico para frente, empurramos, dividimos a bola, demos ombraço, tiramos com a mão, batemos, aporrinhamos. Numa dessas, a bola sobrou para o Barnabé meio na lateral. Ele enfiou um bicaço, mesmo que sem ângulo e... o goleiro aceitou.
Os grandões não se assustaram. Para eles, tratava-se de jogo ganho. Só que a Edna estava lá. A Edna estava olhando. Pois na velhacada, no tranco, fomos indo e fomos indo e fomos indo e fomos.
E empatamos. E ganhamos! Cinco a quatro, com três gols do Plisnou, o Plisnou era mesmo quem mais gostava da Edna. Enquanto nós festejávamos, ele foi lá, parou diante dela, suado, esbaforido, exultante e sussurrou:
- Foi pra ti! Essa foi pra ti!
A Edna sorriu para ele. Alisou com as pequenas mãos a sua minissainha plissada. E seu rostinho moreno corou. Mais tarde, gingando morro abaixo, todos nós concordamos: ver aquele rostinho corar, realmente, foi tri.
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