sábado, 9 de fevereiro de 2008



09 de fevereiro de 2008
N° 15505 - CLÁUDIA LAITANO


Rehab


Uma música de balanço irresistível colocou a palavra "rehab" (pronuncia-se "rirréb") no vocabulário pop do planeta no ano passado - o disco vendeu mais de seis milhões de cópias e é um dos principais indicados ao Grammy deste ano.

Quem canta é a inglesa de origem judaica Amy Winehouse, 24 anos, uma espécie de Rebordosa, em pouca carne e muitos ossos, nos quesitos aparência e hábitos noturnos. "Rehab" é o apelido carinhoso daquelas clínicas de reabilitação onde estrelas e anônimos com dinheiro costumam se internar quando a barra química começa a pesar demais.

Em Rehab, a música, a cantora conta que estão tentando convencê-la a ir para uma clínica, mas ela diz "não, não e não" - tem mais o que fazer, não incomodem. Na vida real, Amy foi parar em uma rehab no fim do mês passado, depois da conhecida série de confusões e cenas deprimentes que acompanham as celebridades com problemas com drogas ou bebidas.

Na festa do Grammy de amanhã à noite, à qual a cantora não vai porque os Estados Unidos negaram seu visto, Amy Winehouse concorre em várias categorias com Rihanna, 19 anos, nascida em Barbados e criada na Califórnia - bonita, exuberante e aparentemente mais saudável do que a colega.

No último disco de Rihanna, lançado no ano passado também, há uma música no estilo romântico-descornado em que ela chora a falta do namorado perdido, que para ela era como uma droga da qual se tornou dependente. Qual o nome da música? Rehab.

Duas cantoras de sucesso, duas músicas dedicadas a rehabs. Nada espantoso considerando-se que notícias sobre meninas famosas que são internadas para desintoxicação são quase tão comuns hoje quanto as fofocas sobre seus namoros e separações.

Artistas que afundam o pé na jaca etílica ou ficam dependentes de pílulas e outros tipos de drogas sempre existiram, evidentemente - quem lê as biografias de Carmen Miranda e, mais recentemente, de Tim Maia fica impressionado com a quantidade de aditivos químicos que um corpo é capaz de suportar antes do colapso final (o de Carmen aos 46 anos, o de Tim, aos 55, nenhum registro de tentativa séria de desintoxicação em ambos os casos).

O que chama a atenção agora é a espetacularização de um drama que costumava ser particular.

A onipresença das "rehabs" no noticiário de celebridades, em letras de música e até no cinema (há uma bizarra versão de O Massacre da Serra Elétrica que se passa, acreditem, em uma clínica de reabilitação) revela uma curiosa banalização de algo que um dia foi considerado segredo de Estado: a fragilidade e o "mau comportamento" das estrelas fora de cena.

Acompanhamos o triste espetáculo de decadência física de Amy Winehouse ou Britney Spears como uma novela que prende a audiência criando situações cada vez mais mirabolantes.

Ficamos sabendo que o marido de Nicole Kidman é alcoólatra, que Kirsten Dunst começou a beber depois de levar um fora do namorado e que o coquetel de pílulas que o ator Heath Ledger tomava antes de dormir podia matar - e matou.

Mas esses personagens parecem incrivelmente irreais e distantes, e ler sobre sua miséria nas revistas provavelmente não os ajuda a livrar-se do vício nem evita que vítimas potenciais anônimas cometam os mesmos erros. Tudo é espetáculo, tudo é Big Brother .

Não vai demorar até que alguém tenha a idéia de fazer um reality show dentro de uma clínica de desintoxicação - se é que já não existe. Ganha quem ficar mais famoso, mais rico e mais tempo vivo depois de passar por uma rehab.

Nenhum comentário: